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PENAS ALTERNATIVAS
Ribeiro, 30, foi solto há uma semana graças à ação de um promotor; ele havia roubado um toca-fitas e comida
Analfabeto fica preso 4 anos por delito
RONI LIMA
a Conceição de Macabu (RJ)
Pobre e analfabeto, Isomar Santiago Ribeiro, 30, fez parte até sexta-feira retrasada de um contingente de pelo menos 45 mil presos
no país que não cometeram crimes
graves e poderiam cumprir penas
alternativas, como trabalhos comunitários.
Ribeiro ficou três anos preso em
uma delegacia de Conceição de
Macabu (RJ) por furto de um toca-fitas e de alimentos. Ao sair,
voltou no mesmo dia para a cadeia
porque bebeu, discutiu com dois
desafetos e acabou detido. Por resistir, foi condenado a mais dois
anos e oito meses de prisão.
Na sexta-feira, dia 12, após um
total de quatro anos preso, saiu da
cadeia graças à ação do promotor
de Justiça Ricardo Zouein, 38.
"Isomar é um pobre coitado. Tinham que colocar presos como ele
para trabalhar", disse.
No Zimbábue, na África, a adoção de penas alternativas já representa, segundo a socióloga Julita
Lemgruber, uma economia anual
de US$ 5 milhões.
Membro do Conselho Nacional
de Política Criminal e Penitenciária (do Ministério da Justiça) e assessora da Secretaria de Estado da
Justiça do Rio, ela diz que uma legislação penal severa "não resolve
o problema da criminalidade".
Por isso, Julita defende a aprovação urgente do projeto de lei que
tramita no Congresso, que prevê a
ampliação dos casos dos presos
com direito a penas alternativas.
Hoje, apenas réus condenados a
até dois anos de prisão têm a possibilidade de ter suas penas convertidas para, por exemplo, a prestação de serviços comunitários em
creches, prefeituras e hospitais.
Pelo projeto, condenados a até
quatro anos, por crimes sem gravidade e não violentos, teriam essa
possibilidade. Segundo Julita, em
95, apenas 2% dos réus condenados receberam penas alternativas.
O censo penitenciário do mesmo
ano revelou que existiam cerca de
150 mil presos -uma média de
95,5 presos por 100 mil habitantes.
Destes, pelo menos 45 mil não cometeram crimes graves. Julita diz
que essa média é semelhante à de
países europeus e bem abaixo da
dos EUA (630 presos por 100 mil
habitantes), onde um preso custa,
em média, US$ 25 mil por ano.
"Como um preso brasileiro custa, em média, R$ 4,5 mil por ano,
com a ampliação das penas alternativas o Estado poderia economizar R$ 200 milhões", afirma. "Isso
seria suficiente para se construir
20 mil casas populares por ano."
Para Julita, os EUA têm a legislação penal mais severa dos países
desenvolvidos, que inclui prisão
perpétua e pena de morte. Mesmo
assim, o país tem altos índices de
criminalidade violenta.
"Isso mostra que uma legislação
penal severa não resolve o problema da criminalidade", afirma.
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