São Paulo, terça, 22 de dezembro de 1998

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INVESTIGAÇÃO
Casais fazem hoje exame genético para definir paternidade de crianças nascidas em 1993, em Osasco
Troca de bebês envolve 19 famílias de SP

MALU GASPAR
da Reportagem Local

A Polícia Civil de São Paulo investiga desde 1993 troca de bebês ocorrida em uma maternidade de Osasco (Grande São Paulo) e que envolve 19 famílias. Pelo menos uma delas cria há cinco anos uma criança que, na verdade, é filha de outro casal.
Hoje a investigação terá um passo decisivo: acontece, cercado de sigilo, exame de paternidade que vai levar os casais e 18 filhos ao Imesc (Instituto de Medicina Social e Criminologia de São Paulo).
O nome dos pais e das crianças que farão o teste está protegido pelo sigilo de Justiça decretado para o caso, que está sendo apurado pelo 5º Distrito Policial de Osasco. Ninguém ali aceita dar entrevistas e a Folha apurou que as famílias só aceitaram fazer o teste depois da garantia de sigilo.
As dúvidas envolvendo a paternidade começaram quando uma mãe desconfiou que o bebê morto logo depois de nascer, no Hospital Maternidade João Paulo 2º, não era a seu filho.
Durante o inquérito, o bebê morto foi exumado e os exames de DNA indicaram que a mãe estava certa. A criança morta era na verdade filha de outra gestante que esteve internada no hospital naquele dia e 18 outras crianças poderiam ser o bebê da mãe que denunciou.
Desde que se descobriu isso, os casais envolvidos já tiveram as mais variadas reações, desde a perplexidade até as ameaças- de matar quem investiga ou de denunciar o caso na TV.
O exame já está marcado desde setembro e toda a agenda do Imesc de hoje foi reservada para esses casais. O Imesc é um instituto público que faz exames de paternidade e outras perícias gratuitas a pedido da Justiça.
O teste de paternidade feito hoje não será o de DNA. A combinação das técnicas que o Imesc utiliza (HLA e série vermelha) assegura até 97,87% de indicação de paternidade ou maternidade.
A série vermelha considera seis sistemas de compatibilidade sanguínea. O HLA, a similaridade de antígenos (substâncias que provocam a formação de anticorpos no organismo).
Segundo o geneticista João Lélio de Matos, quando a pessoa que fez o teste não é o pai da criança, tanto o exame HLA quanto o exame de DNA vão excluí-lo dessa paternidade, dando resultado negativo. Para provar que a pessoa é o pai, o exame de DNA tem mais de 99,9% de eficácia, e o HLA, mais de 80%.

Destroca ameaçada

Mesmo que se descubra o verdadeiro filho do casal que apresentou a denúncia de troca, ele não lhe será entregue automaticamente. Nesses casos, a Justiça determina exames e acompanhamento psicológico para ver a conveniência, especialmente para a criança, de entregá-la aos pais biológicos .
A polícia apura se houve negligência na maternidade e se alguém poderá ser punido por isso.



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