São Paulo, terça, 22 de dezembro de 1998

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JUSTIÇA
Desconfiança surgiu após morte do bebê, que apresentava anomalia ausente na mãe, segundo obstetra
Pai tenta provar troca há 16 anos


PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local

Há 16 anos, o zelador José Correa Aguieiras, 58, busca provar na Justiça que seu filho -que hoje teria 16 anos- teria sido trocado na maternidade.
Em 22 de outubro de 1982, nasceu, na Maternidade Paulistânia, Rogério da Cunha Aguieiras, seu quarto filho com a faxineira Geralda Cunha Aguieiras, 48. Depois de 16 dias, o menino morreu com infecção hospitalar.
Foi somente durante inquérito para apurar a morte do bebê que Aguieiras começou a desconfiar da verdadeira identidade do menino e, então, iniciou uma busca incessante pela "verdade".
Durante o inquérito, o obstetra Spencer Sydow Sobrinho, responsável pelo parto de Geralda, declarou que a mãe do bebê morto tinha a mesma anomalia do filho: seis dedos em cada mão. Geralda não apresenta essa anomalia, o que foi registrado por um laudo do IML.
Desde então, Aguieiras tenta conseguir do governo, por meio da Justiça, a realização do exame de DNA -que custaria R$ 22 mil em laboratório particular. "Mas, se o governo comprar o kit, o Instituto Médico Legal de Brasília, equipado para isso, poderia realizar o exame."
Aguieiras, que recebe um salário de R$ 350, não tem condições de bancar os exames.
Em 94, ele conseguiu a exumação do corpo do bebê, por meio da Justiça. O material exumado, mantido em Ribeirão Preto, é a única pista para que Aguieiras esclareça o caso.
Ele já perdeu a conta das ações que moveu na Justiça -todas fracassadas-, para conseguir o exame de DNA.
"Não entendo por que tanta resistência. É um direito meu e de minha mulher sabermos se o menino que enterramos era mesmo nosso filho."
Consciente das dificuldades para encontrar seu filho verdadeiro -se for provado que houve troca-, ele não desanima. "Não posso ficar com essa dúvida pelo resto da vida", diz. "Não vou desistir. Não há bens materiais ou ameaças que me tirem desse caminho."
Neste ano, há duas ações correndo. Uma delas na Procuradoria de Assistência Judiciária, onde pediu julgamento de filiação mediante exame de DNA ou mediante a documentação que está em seu poder. Outra, na 2ª Vara de Registro Público, no Fórum João Mendes.
Há 30 dias, Aguieiras enviou carta contando sua história à Agência Brasileira de Inteligência, em Brasília, mas ainda não obteve resposta.



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