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OPINIÃO
Simplicidade e excelência
SONIA RODRIGUES MOTA
Os antigos gregos reconheciam
seus heróis pela capacidade de servir com honra à comunidade e de
dedicar todo o esforço a esse compromisso. O herói grego era o modelo para a sociedade por duas
qualidades: honra e excelência.
Monteiro Lobato, grande brasileiro com uma extraordinária vocação heróica, disse que um país
se faz com homens e livros. No
Brasil, para difundir os livros que
possam formar os homens, é necessário ter em conta o enorme
contingente de pessoas que não
tem acesso à leitura e é excluído de
grande parte dos bens culturais, a
extensão continental do país, a
inércia e as falsas soluções que levam à perpetuação da exclusão
econômica, social e cultural.
Enfrentar esse contexto para formar homens e cidadãos exige uma
boa dose de heroísmo, no sentido
grego. É preciso que se leve em
conta o que precisa ser mudado e
se faça isso de maneira simples.
Levar os livros aos seus leitores
potenciais, por mais longe que eles
estejam. Mostrar ao leitor que o livro pode ser um mundo de prazer.
Engendrar em torno dele atividades que mostrem a riqueza que há
dentro de uma enciclopédia cultural disponível na comunidade.
Simples, não é? Oferecer ao brasileiro, desde criança, o mundo
maravilhoso da ficção, os tesouros
do passado, a criatividade e a tecnologia do presente -acervo impossível de acumular, não fossem
os sonhos de nossos antepassados.
O programa "Leia Brasil", patrocinado pela Petrobrás, se concretiza na simplicidade que permite a excelência. Leva os livros em
caminhões-biblioteca para escolas
públicas, promove atividades em
torno da leitura. Orienta o professor a enriquecer a leitura das turmas pelas quais é responsável.
O difícil no Brasil não é formar
cidadãos. O que, às vezes, fortalece a inércia é pressupor que incrementando estratégias sofisticadas
e isoladas, mas que não atendem à
maioria, desenvolveremos no Brasil o sonho, a esperança, a participação. É importante que se garanta o básico: a enciclopédia cultural, ao alcance dos sentidos de
quem pode desejá-la, e a consciência de que a cultura é um direito
inalienável da cidadania.
Promover a leitura é uma das retribuições mais importantes que
uma grande empresa pode oferecer à comunidade que alimenta
seu crescimento e seu lucro. A
honra para quem o faz é garantir
que essa promoção dará frutos para milhares de brasileiros.
A leitura nos dá a chave do acervo dos que vieram antes de nós,
nos integra aos criadores de nossa
época e nos faz autores de nosso
próprio mundo. A leitura de qualquer linguagem, por meio de qualquer mídia, é a medida de nossa
humanidade, da nossa intervenção sobre a Terra.
Sonia Rodrigues Mota, 43, escritora, é doutora
em literatura pela PUC (Pontifícia Universidade
Católica) do Rio de Janeiro.
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