São Paulo, terça, 22 de dezembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OPINIÃO
Simplicidade e excelência

SONIA RODRIGUES MOTA

Os antigos gregos reconheciam seus heróis pela capacidade de servir com honra à comunidade e de dedicar todo o esforço a esse compromisso. O herói grego era o modelo para a sociedade por duas qualidades: honra e excelência.
Monteiro Lobato, grande brasileiro com uma extraordinária vocação heróica, disse que um país se faz com homens e livros. No Brasil, para difundir os livros que possam formar os homens, é necessário ter em conta o enorme contingente de pessoas que não tem acesso à leitura e é excluído de grande parte dos bens culturais, a extensão continental do país, a inércia e as falsas soluções que levam à perpetuação da exclusão econômica, social e cultural.
Enfrentar esse contexto para formar homens e cidadãos exige uma boa dose de heroísmo, no sentido grego. É preciso que se leve em conta o que precisa ser mudado e se faça isso de maneira simples.
Levar os livros aos seus leitores potenciais, por mais longe que eles estejam. Mostrar ao leitor que o livro pode ser um mundo de prazer. Engendrar em torno dele atividades que mostrem a riqueza que há dentro de uma enciclopédia cultural disponível na comunidade.
Simples, não é? Oferecer ao brasileiro, desde criança, o mundo maravilhoso da ficção, os tesouros do passado, a criatividade e a tecnologia do presente -acervo impossível de acumular, não fossem os sonhos de nossos antepassados.
O programa "Leia Brasil", patrocinado pela Petrobrás, se concretiza na simplicidade que permite a excelência. Leva os livros em caminhões-biblioteca para escolas públicas, promove atividades em torno da leitura. Orienta o professor a enriquecer a leitura das turmas pelas quais é responsável.
O difícil no Brasil não é formar cidadãos. O que, às vezes, fortalece a inércia é pressupor que incrementando estratégias sofisticadas e isoladas, mas que não atendem à maioria, desenvolveremos no Brasil o sonho, a esperança, a participação. É importante que se garanta o básico: a enciclopédia cultural, ao alcance dos sentidos de quem pode desejá-la, e a consciência de que a cultura é um direito inalienável da cidadania.
Promover a leitura é uma das retribuições mais importantes que uma grande empresa pode oferecer à comunidade que alimenta seu crescimento e seu lucro. A honra para quem o faz é garantir que essa promoção dará frutos para milhares de brasileiros.
A leitura nos dá a chave do acervo dos que vieram antes de nós, nos integra aos criadores de nossa época e nos faz autores de nosso próprio mundo. A leitura de qualquer linguagem, por meio de qualquer mídia, é a medida de nossa humanidade, da nossa intervenção sobre a Terra.


Sonia Rodrigues Mota, 43, escritora, é doutora em literatura pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.