São Paulo, terça, 22 de dezembro de 1998

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JUSTIÇA
Sequestradores de Abílio Diniz, que completam 37 dias sem comer, serão julgados hoje
Redução de pena não deve encerrar greve

ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

Qualquer que seja hoje a decisão do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) sobre a redução das penas dos sequestradores do empresário Abílio Diniz, eles não deverão encerrar a greve de fome no mesmo dia.
O julgamento da revisão das penas dos sequestradores foi adiado pela terceira vez, na última terça-feira. Desembargadores do TJ que já votaram -oito dos dez- indicaram que as penas serão reduzidas.
Os oito sequestradores completam hoje 37 dias sem comer, tornando essa a maior greve de fome já ocorrida no Brasil. Até ontem, a greve de maior duração de que se teve notícia foi em 1972: 36 dias.
"O resultado do TJ não implica o fim da greve, mas a expectativa dos presos em relação ao comportamento que o governo terá a partir de então", disse o porta-voz dos presos, Breno Altman.
Segundo Altman, há três reações que o governo pode vir a ter. A primeira hipótese -independentemente do resultado da sessão de hoje- é o governo continuar delegando exclusivamente à Justiça a decisão sobre o destino dos presos. A segunda é o governo aguardar a decisão do Congresso sobre os tratados de transferência de presos estrangeiros.
A terceira hipótese seria agilizar a expulsão dos estrangeiros e indultar o brasileiro. Isso poderia ocorrer no caso de o TJ decidir adiar mais uma vez o julgamento das penas. Nesse caso, segundo Altman, o presidente Fernando Henrique Cardoso poderia usar suas atribuições constitucionais para expulsar e indultar.
Mesmo com o tribunal decidindo pela redução das penas, poderia haver a interferência do presidente. Isso porque a Justiça teria acenado para uma possível liberdade ou transferência de regime de detenção e o presidente apenas aceleraria um processo que, pela burocracia, seria mais lento.
De qualquer forma, os sequestradores reiteram que só terminam a greve com a concessão da liberdade.
"Não há como terminar essa greve sem liberdade", afirmou Altman. Segundo ele, os presos disseram que não há como voltarem para o presídio.
"Isso os desmoralizaria e os colocaria em risco de retaliação interna. Eles já nem têm mais os seus objetos pessoais na cadeia", disse o porta-voz.
Boletim médico divulgado ontem à tarde pelo HC informou que os presos "continuam debilitados, mas permanecem conscientes". Eles estão recebendo reposição de sais por via oral.



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