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500 ANOS
Evento discute livro que traz a visão de pessoas comuns sobre país; depoimentos tratam da questão da mulher e do negro
Anônimos compõem identidade do Brasil
da Reportagem Local
A partir da
pergunta "o
que é o Brasil?",
o jornalista José
Arbex Jr. e a historiadora Maria
Helena Valente
Senise coletaram depoimentos de 166 brasileiros anônimos e os reuniu em um
livro sobre a identidade do país.
"Cinco Séculos de Brasil - Imagens e Visões", da Editora Moderna, reproduz a visão de pessoas
comuns sobre o país em que vivem. Os depoimentos exploram as
questões da mulher, do negro e da
política social brasileira.
O assunto foi tema do debate
"Brasil 500 anos: Uma Questão de
Identidade", que aconteceu no
auditório da Folha. Além dos autores, participaram da mesa de debates o geógrafo Milton Santos,
professor emérito da USP, e o empresário e bibliófilo José Mindlin.
"Para não perder a identidade
das pessoas ouvidas, adotamos a
metodologia de história oral. Foi a
forma encontrada para conservar
a linguagem do orador e sua origem", disse Maria Helena.
As pessoas escolhidas para compor o livro são as mais variadas.
Foram selecionadas em 17 Estados
brasileiros, têm entre 7 e 70 anos e,
sem exceção, são desconhecidas
do público. "O interessante é que
os depoimentos não se esgotam
neles mesmos. O que fizemos foi
ouvir as pessoas, sem interferir em
seus pensamentos. Uma das surpresas foi conferir como, cada um
de sua maneira, traduz os acontecimentos", afirmou Arbex Jr.
A idéia de reunir os depoimentos, segundo Arbex Jr., partiu do
projeto inicial de escrever um livro
sobre os 500 anos de descobrimento do Brasil. "Na tentativa de
traduzir a visão do cidadão sobre o
país, chegamos à conclusão de que
seria melhor dar voz as pessoas comuns, para que falassem sobre as
questões que as afetam."
Para Milton Santos, além da
vantagem de ter uma trama forte,
o livro "faz pensar". "A grande
vantagem do livro é buscar a identidade do povo comum, indagar o
que os brasileiros pensam, sem se
prender a uma linguagem oficial", disse. De acordo com o geógrafo, a literatura brasileira carece
de informações sobre a atual situação do negro no país.
"As pessoas falam de escravidão, mas se esquecem de que ninguém mais chora por escravos. Os
negros enfrentam hoje outros problemas, como a discriminação",
afirmou Milton Santos.
Segundo Mindlin, o livro permite a redescoberta do Brasil pelos
olhos de cidadãos anônimos e tem
a vantagem de não se perder em
discursos ufanistas. "Ninguém
pára para perguntar o que o homem comum pensa dos problemas sociais ou do Brasil. Essa é
uma boa oportunidade para refletir."
(LILIAN CHRISTOFOLETTI)
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