São Paulo, terça, 22 de dezembro de 1998

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500 ANOS
Evento discute livro que traz a visão de pessoas comuns sobre país; depoimentos tratam da questão da mulher e do negro
Anônimos compõem identidade do Brasil

da Reportagem Local


A partir da pergunta "o que é o Brasil?", o jornalista José Arbex Jr. e a historiadora Maria Helena Valente Senise coletaram depoimentos de 166 brasileiros anônimos e os reuniu em um livro sobre a identidade do país.
"Cinco Séculos de Brasil - Imagens e Visões", da Editora Moderna, reproduz a visão de pessoas comuns sobre o país em que vivem. Os depoimentos exploram as questões da mulher, do negro e da política social brasileira.
O assunto foi tema do debate "Brasil 500 anos: Uma Questão de Identidade", que aconteceu no auditório da Folha. Além dos autores, participaram da mesa de debates o geógrafo Milton Santos, professor emérito da USP, e o empresário e bibliófilo José Mindlin.
"Para não perder a identidade das pessoas ouvidas, adotamos a metodologia de história oral. Foi a forma encontrada para conservar a linguagem do orador e sua origem", disse Maria Helena.
As pessoas escolhidas para compor o livro são as mais variadas. Foram selecionadas em 17 Estados brasileiros, têm entre 7 e 70 anos e, sem exceção, são desconhecidas do público. "O interessante é que os depoimentos não se esgotam neles mesmos. O que fizemos foi ouvir as pessoas, sem interferir em seus pensamentos. Uma das surpresas foi conferir como, cada um de sua maneira, traduz os acontecimentos", afirmou Arbex Jr.
A idéia de reunir os depoimentos, segundo Arbex Jr., partiu do projeto inicial de escrever um livro sobre os 500 anos de descobrimento do Brasil. "Na tentativa de traduzir a visão do cidadão sobre o país, chegamos à conclusão de que seria melhor dar voz as pessoas comuns, para que falassem sobre as questões que as afetam."
Para Milton Santos, além da vantagem de ter uma trama forte, o livro "faz pensar". "A grande vantagem do livro é buscar a identidade do povo comum, indagar o que os brasileiros pensam, sem se prender a uma linguagem oficial", disse. De acordo com o geógrafo, a literatura brasileira carece de informações sobre a atual situação do negro no país.
"As pessoas falam de escravidão, mas se esquecem de que ninguém mais chora por escravos. Os negros enfrentam hoje outros problemas, como a discriminação", afirmou Milton Santos.
Segundo Mindlin, o livro permite a redescoberta do Brasil pelos olhos de cidadãos anônimos e tem a vantagem de não se perder em discursos ufanistas. "Ninguém pára para perguntar o que o homem comum pensa dos problemas sociais ou do Brasil. Essa é uma boa oportunidade para refletir." (LILIAN CHRISTOFOLETTI)


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