São Paulo, sábado, 23 de janeiro de 1999

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LEIS

Golpes vitimam Justiça do Trabalho e advogados em SP

EUNICE NUNES
especial para a Folha

Demissões em massa e recessão econômica. Está pronto o cenário ideal para que "espertinhos" saiam por aí aplicando velhos e novos golpes. E muitos deles se dão no âmbito da Justiça do Trabalho e daquilo que gira em torno dela.
Por exemplo, os advogados trabalhistas, de um tempo para cá, passaram a ser vítimas de um novo tipo de estelionato.
Aparece um suposto cliente, diz que foi demitido e quer reclamar contra a empresa. Alega estar na penúria e pede um pequeno adiantamento para ir se aguentando até arranjar outro trabalho.
Ou diz que, como ele, há um grupo de pessoas que precisa ajuizar ação trabalhista, mas que nem dinheiro tem para ir até o escritório. Seria preciso um empréstimo para pagar as passagens.
E o advogado, por pena ou por cobiça, empresta o dinheiro. O "cliente", que depois some, vai de escritório em escritório com a mesma história, conseguindo, assim, uma soma razoável.
No ano passado, um advogado suspeitou da história e comunicou o fato à polícia. O golpista acabou preso em flagrante, com cheques (um de R$ 80,00 e outro de R$ 50,00) de dois advogados diferentes no bolso e 16 cartões de advogados que ele provavelmente pretendia visitar.
"Quem cai nesse tipo de golpe, normalmente, são os advogados mais inexperientes. Especialmente quando o golpista diz que tem um grupo de reclamantes e ele acredita que vai ganhar um bom dinheiro", diz Luís Carlos Moro, presidente da Associação dos Advogados Trabalhistas (AAT).
Outro mal do setor, já antigo e incentivado por alguns advogados, é a utilização dos chamados paqueiros (aqueles que angariam serviços para terceiros).
Eles atuam perto dos edifícios da Justiça do Trabalho e da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), captando clientes para advogados trabalhistas. O paqueiro ganha uma comissão por pessoa que leva até o escritório.
Em alguns casos, o feitiço vira-se contra o feiticeiro. O paqueiro leva ao escritório clientes fictícios, que não têm reclamação nenhuma a fazer, só para ganhar a comissão.
Há até casos de paqueiros que se deram tão bem que hoje têm seu próprio escritório e empregam advogados para atender aos clientes captados na rua.
O uso de paqueiros fere o Código de Ética dos advogados (trata-se de captação irregular de clientela). "É difícil de combater, por ser algo como a agiotagem e a prostituição. Não pode, mas continua existindo", afirma Moro.
A Justiça do Trabalho acaba sendo a maior vítima, pois as ações, embora sejam depois arquivadas, são ajuizadas, entram na pauta de audiência e tiram da fila gente que de fato tem uma reclamação justa.
"Os advogados precisam ser mais éticos e cautelosos. Não devem estimular reclamações, usar paqueiros nem participar de processos simulados", adverte Floriano Vaz da Silva, presidente do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (TRT-SP).



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