São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ÀS ESCURAS
Cerj culpa defeitos em transformadores na estatal Furnas Centrais Elétricas, gestões passadas e verão pelos problemas no abastecimento
Privatização agrava fornecimento de luz no Rio

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

Passados três meses da privatização, agravaram-se os problemas de fornecimento de energia pela Cerj (Companhia de Eletricidade do Estado do Rio de Janeiro) à população de 65 municípios fluminenses.
A piora é reconhecida até pela direção do consórcio -formado por empresas do Chile, Portugal e Espanha- que, em novembro passado, adquiriu em leilão a empresa de energia elétrica pertencente ao governo estadual.
Para o diretor técnico da Cerj, o português Gaspar Rego, a companhia não pode piorar mais. Em entrevista à Folha na quarta-feira, ele usou lápis e papel para mostrar a situação atual da ex-estatal.
Rego, 51, desenhou um U maiúsculo e apontou para a curva da letra. ``Encontramos um sistema em queda franca. Pensamos que o ponto mais baixo da queda foi vivido nesses dias. Agora vamos subir'', disse Rego.
A população servida pela Cerj enfrenta situações críticas. Todos os dias têm faltado luz em alguns dos mais importantes municípios do interior do Estado, como Niterói, Petrópolis, Duque de Caxias, São Gonçalo e Cabo Frio.
A direção da Cerj aponta três culpados pelo precário fornecimento energético: a estatal Furnas Centrais Elétricas, cujos transformadores que abastecem a Cerj deram defeito este mês, as gestões passadas da companhia e o verão.
``A Light (empresa que abastece a cidade do Rio) foi privatizada em maio. Não pegou o verão. Conosco foi diferente. Logo após a privatização começou o verão, quando aumenta o consumo'', disse o chileno Jose Luis Echenique, 49, vice-presidente da empresa.
O executivo afirma que houve um aumento de 49% no consumo de energia no litoral norte este Carnaval em relação ao do ano passado. ``Se não tivéssemos investido em melhorias o Carnaval teria sido completamente às escuras'', disse Echenique.
A cidade de São Francisco do Itabapoana (330 km do Rio) foi citada como exemplo pelo vice-presidente. ``Lá, a população passou de 70 mil para 200 mil pessoas de uma hora para outra. Houve um grande pique de consumo'', afirmou.
A diretoria reclama que as direções anteriores da Cerj não investiram em melhorias.
``A empresa estava totalmente sucateada, com equipamentos obsoletos, tecnologias ultrapassadas, sistemas desajustados. A região oceânica de Niterói cresce 20% ao ano. Foram dez anos sem qualquer investimento'', disse Echenique.
O consórcio informa já ter investido US$ 40 milhões desde a privatização. Até o fim do ano, está previsto o gasto de mais US$ 60 milhões. Em cinco anos, o plano é investir US$ 500 milhões, de modo a tornar a Cerj uma empresa padrão em fornecimento energético.
Segundo a direção da Cerj, até o fim do ano o fornecimento de energia às áreas críticas terá alcançado níveis aceitáveis. Em dois anos, a qualidade do serviço será excelente, de acordo com os planos do consórcio.


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1996 Empresa Folha da Manhã