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São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 2003

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TRANSPORTE

Leonardo Capuano vendeu uma empresa a acusado de estelionato e outra a ex-fiscal que vivia em casa alugada

Empresário quebra 4 viações em 2 anos

CHICO DE GOIS
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

No mesmo mês em que vendeu a empresa de ônibus Cidade Tiradentes para um uruguaio acusado de estelionato e um eletricista que já havia morrido, Leonardo Lassi Capuano repassou outra viação, a Parque Ibirapuera Transportes, para um ex-fiscal da viação Santo Amaro, da qual também foi dono e que fechou as portas em 2002.
O suposto "comprador" vivia de aluguel, na época da transação, em uma rua sem pavimentação, com esgoto a céu aberto, em Carapicuíba (Grande SP). E a situação financeira da Parque Ibirapuera era parecida com a da Cidade Tiradentes: acumulava dívidas e estava quase falida.
Nos últimos seis meses de 2002, Capuano e seu sócio João Tarcísio Borges "quebraram" ainda mais duas empresas de ônibus: a Santo Amaro, também de São Paulo, e a Morumbi, de Campinas.
As três primeiras pertenciam, antes, à família Constantino, uma das maiores no setor de transporte, dona da companhia aérea Gol.
Capuano, que foi executivo do grupo Constantino, criou a Parque Ibirapuera em 17 de dezembro de 2001, com um capital social de R$ 50 mil -menos de metade de um ônibus novo. Em 6 de novembro de 2002, os sócios repassaram a empresa para Messias Fernandes e Sebastião Fernandes. Este último residiria na rua Cambé, em Carapicuíba.
A Folha esteve na quinta-feira no local. No endereço de Sebastião, cujo sobrenome verdadeiro é Bernardes, e não Fernandes, a dona do imóvel, Vilma Dutra, informou que ele foi seu inquilino durante uma década, mas se mudou há dois anos.
Segundo ela, Sebastião era um bom pagador, mas não tinha dinheiro para adquirir uma empresa de ônibus. Segundo a Junta Comercial, a participação de Sebastião na sociedade era de R$ 2.500. Messias Fernandes respondia por R$ 47,5 mil.
As três empresas de Capuano em São Paulo chegaram a ser citadas, em novembro de 2002, pelo militante do PT William Ali Chaim, que fez acusações de repasses irregulares de verba a empresas de ônibus pela prefeitura.
Chaim dizia que Carlos Zarattini, então secretário dos Transporte, havia dado irregularmente R$ 665 mil às viações Ibirapuera, Cidade Tiradentes e Santo Amaro para que elas pudessem pagar salários atrasados. Zarattini negou irregularidades nos repasses.
A situação nessas três empresas não estava bem havia alguns meses e, em junho de 2002, a prefeitura interveio nas viações. Mesmo assim, em 6 de agosto, a Parque Ibirapuera assinou um novo contrato de emergência com a SPTrans. Uma semana depois, os motoristas assumiram a administração da Ibirapuera e da Santo Amaro porque continuavam sem receber salários. As duas tinham uma frota operacional de 219 veículos e 1.131 motoristas.
Essas três empresas de ônibus de São Paulo passaram a ser controladas por Capuano e Borges nos últimos dois anos. Segundo diretores do sindicato dos condutores, eram consideradas viações equilibradas, sem problemas operacionais graves nem atraso de pagamento dos trabalhadores.
O período em que elas "quebraram" e foram vendidas coincide com a crise financeira da viação Morumbi, de Campinas, também administrada pelos dois empresários, que transportava 10% dos passageiros da região e que foi entregue à VBTU, líder do setor no município, em dezembro de 2002.
Segundo Paulo Barddal, diretor de comunicação da Transurc (sindicato das empresas de ônibus de Campinas), a Morumbi acumulava dívidas já vencidas superiores a R$ 1 milhão.
A VBTU decidiu adquiri-la para evitar um colapso no sistema de transporte local. A negociação, porém, não envolveu valores: José Ricardo Caixeta, da VBTU, apenas assumiu as dívidas da viação Morumbi. Segundo o Transurc, a empresa renegociou as dívidas, e hoje opera normalmente.
A Folha não conseguiu localizar Leonardo Capuano. A SPTrans informou, através de sua assessoria de imprensa, que a participação da Ibirapuera no contrato emergencial foi aceita pelo consórcio que atuava na área seis.


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