São Paulo, segunda, 23 de fevereiro de 1998

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Dono de empreiteira possui rádios e TVs

e da Sucursal de Brasília

A família do deputado federal Sérgio Naya (PPB-MG) -proprietário da empreiteira Sersan, que construiu o prédio que desabou ontem no Rio- afirma desconhecer o paradeiro do parlamentar.
Pouco depois de ver imagens dos escombros, o engenheiro e irmão do deputado, Paulo Cezar Naya, afirmou à Folha que não sabe se o irmão está no Brasil ou no exterior. "Tem um punhado de dias que não falo com ele."
O deputado Sérgio Naya controla pelo menos 20 emissoras de rádio e TVs educativas no interior de Minas Gerais. A radiodifusão é sua principal arma eleitoral, o que faz dele um símbolo do chamado "coronelismo eletrônico".
Seu irmão Paulo mora em Brasília, onde também ficam os escritórios centrais das empresas do parlamentar: a Sersan Comunicações -que controla a rede de rádios no interior de Minas-, o hotel Saint Paul, a construtora Sersan e a Fundação Serafim Naya, que controla as TVs educativas.
O engenheiro diz que não acompanha o dia-a-dia do irmão porque, há seis anos, vendeu sua participação nas empresas. Em Laranjal (320 Km de BH), onde o deputado também tem residência, os parentes dizem, igualmente, desconhecer seu paradeiro.
Na casa do dentista Luiz Carlos Naya, outro irmão do deputado -que administra duas rádios e uma TV em Muriaé, vizinha de Laranjal, só os filhos e os empregados atendiam o telefone para dizer que não tinham informações a dar.
Em seu apartamento, um dúplex na quadra 116 sul de Brasília, informava-se ontem que o deputado deixou a capital na sexta-feira.
O deputado controla politicamente a zona da mata de Minas Gerais, na região sudeste do Estado, vizinhança das divisas com o Rio de Janeiro e o Espírito Santo.
Da pequena cidade de Laranjal, onde fica seu domicílio oficial, Naya mantém sob rígido controle o esquema político que, a cada quatro anos, lhe rende os votos necessários para se eleger.
Naya também é sócio dos dois maiores empresários do setor imobiliário de Brasília: o ex-deputado federal Paulo Octávio e o deputado distrital Luiz Estevão (PMDB), ambos ligados ao ex-presidente Fernando Collor.
Há cerca de oito anos, eles montaram o consórcio LPS para construir um shopping center no Lago Norte, uma das áreas nobres de Brasília. A obra está paralisada desde 1993 porque o prazo de 36 meses para a construção do empreendimento não foi cumprido.
Formado em engenharia civil e em eletrotécnica, Naya está cumprindo seu terceiro mandato. Sua carreira política começou em 86, quando foi eleito suplente para o Congresso Constituinte (87-91). Eleito pelo PMDB, ele passou pelo PP antes de se filiar ao PPB.
Sua prestação de contas referente às eleições de 1994 aponta que a construtora Sersan pagou todas as despesas da campanha, que oficialmente somaram R$ 352 mil.
Como parlamentar, Naya tem uma atuação discreta e nunca ocupou uma posição de liderança na Câmara. Em 1991, durante os trabalhos da CPI do Narcotráfico, o então deputado federal Agostinho Valente (PT-MG) acusou o colega de ter ligações com o tráfico de drogas. A denúncia nunca foi formalizada por Valente, e Naya também não foi investigado pela CPI.
Durante a CPI do Orçamento (1993-1994), a construtora Sersan foi investigada por causa da venda de um apartamento do hotel St. Paul para o então deputado João Alves (PPB-BA) -principal acusado nas investigações. A construtora não recebeu nenhuma sanção em consequência da CPI.
No primeiro semestre de 1997, um levantamento da Folha apontou Naya como o deputado mais faltoso no período (16 faltas, ou 34% das sessões deliberativas). Ele argumentou que havia faltado por causa de problemas de saúde.
(FERNANDO GODINHO, ELVIRA LOBATO e SERGIO TORRES)


Colaborou Abnor Gondim, da Sucursal de Brasília



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