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OPINIÃO
Aprendendo de verdade
ESTHER GROSSI
A fuga do essencial, em matéria
de educação, transforma programas bons em meras peças de marketing. "Todos na escola" é uma
meta urgente e importantíssima. E
nisso estamos abraçadíssimos, governo e oposição. Devemos todos
nos engajar nesse belíssimo esforço. O mínimo a que se aspira é que
todos os brasileiros que devem estudar tenham lugar na escola, para
nela aprender de verdade.
Repudiamos veementemente
que a escola seja hoje, para uma
enormidade de alunos, lugar em
que eles se estigmatizam como incapazes de aprender. Beiramos os
50% de insucesso nas classes de alfabetização. De cada mil alunos
que terminam a 8ª série, temos a
insignificância de 43 que chegam
lá sem repetir nenhum ano letivo.
Paradoxalmente, isso acontece
no Brasil quando a ciência descobre um potencial surpreendente
no cérebro. Autistas, sindrômicos
genéticos e lesionados cerebrais
proporcionam o espetáculo promissor da demonstração de estágios impensados até pouco tempo
atrás de rendimento cognitivo,
desde que se utilize com eles uma
nova e adequada pedagogia.
A nossa escola é uma indústria
eficacíssima em produzir desiludidos quanto às suas possibilidades
de nela aprender, o que leva a consequências profundas. Os relegados pelos sistemas escolares e pela
sociedade nos provam sua capacidade de aprender com eficácia em
outros domínios, podendo chegar
ao crime e à violência.
Só que, para ensinar de verdade
nas escolas, é imperativo superar a
ausência de clareza sobre como se
aprende. A mistura de diversos
modelos, grave em qualquer lugar
do mundo, torna-se, num país das
dimensões brasileiras, problema
da maior envergadura -um ralo
de recursos financeiros para a
educação, atingindo a União, os
Estados e os municípios.
Tentar escapar desse ralo sem
atacar de frente o problema da
não-aprendizagem é erro político
inadmissível. A diminuição de
despesas à base de estratagemas
periféricos, como o aumento de
duração da hora-aula para poder
demitir professores, não redundará em mais aprendizagem.
É fundamental reduzir despesas
atacando o efeito em sua causa
-acabando para valer com a repetência, não a mascarando com a
instituição de ciclos. Para isso, o
centro é o professor, ou melhor,
sua atualização em pedagogia, o
que acarreta seu engajamento, ao
lado de pesquisadores de todo o
país, na elaboração de práticas a
ser usadas no ensino-aprendizagem, à luz das muitas novidades
com que somos brindados pelas
ciências da inteligência.
Todos na escola, sim. Essa é uma
aspiração suprapartidária. Mas
nela aprendendo de verdade.
E
sther Pillar Grossi, 61, doutora em psicologia
da inteligência pela Universidade de Paris (França), é deputada federal pelo PT-RS.
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