São Paulo, terça, 23 de março de 1999
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Itaquera tem dois com prisão decretada

SÍLVIA CORRÊA

da Reportagem Local

Dois funcionários da Administração Regional de Itaquera (zona leste de São Paulo) tiveram a prisão temporária decretada na sexta-feira, sob a acusação de terem exigido propina de um comerciante que fazia obra irregular.
A vítima, W.P.S., 48, entregou à polícia uma fita cassete gravada, na qual os acusados exigem R$ 10 mil sob pena de paralisação da construção, que não tinha planta aprovada por causa de uma desapropriação, segundo o denunciante.
Antes dessa segunda ameaça, outros R$ 5.000 já haviam sido pagos. O comerciante que fez a denúncia não quer ser identificado.
A arquiteta Dinorá Braga, supervisora de Uso e Ocupação do Solo de Itaquera, e o fiscal Albano Pires haviam sido intimados a comparecer ontem à Dird (Divisão de Registros Diversos) para prestar depoimento. Como não atenderam à intimação, foram considerados foragidos pela polícia.
Eles foram afastados das funções pela prefeitura ontem.
A Administração Regional de Itaquera já é a décima sob investigação no caso da máfia da propina. Ela é controlada pelo vereador pepebista Benedito Salim. Segundo a polícia, Dinorá é sua funcionária de confiança e foi de Guaianazes para Itaquera quando mudou a regional que o vereador controlava.

Cobrança
A extorsão começou, segundo W., em junho de 97, quando ele iniciou as obras de um salão comercial na esquina da avenida Jacu Pêssego com a rua Tomé Álvares de Castro. Dias depois, segundo o relato do comerciante, Pires e uma fiscal identificada apenas como Cristina apareceram para checar os documentos da construção e identificaram a falta de planta.
Os fiscais mandaram, então, que o comerciante procurasse Dinorá na regional. Após negociação, a arquiteta disse que por R$ 6.000 ele poderia continuar a construção.
O denunciante diz ter ouvido dela que o dinheiro seria necessário "para o caso de superiores passarem por lá e cobrarem satisfações dos funcionários". No final, W. pagou R$ 5.000 em quatro cheques.
Por cinco meses, W. continuou a obra sem ser importunado pelos fiscais e sem pagar qualquer multa pela falta de planta da construção.
Em novembro, no entanto, quando as paredes do salão já estavam altas, dois fiscais identificados como Gonzaga e Japonês voltaram à obra e apontaram o problema.
Na ocasião, W. disse que já havia pago a Dinorá, mas os fiscais argumentaram que o acerto valia para apenas uma das três frentes do imóvel e que ele deveria voltar a procurar a supervisora.
O comerciante foi à regional e gravou a conversa com Dinorá. Na fita, a voz apontada como sendo a da supervisora diz claramente que ele lhe deve R$ 10 mil pelas outras duas frentes do salão.
O pedreiro de W., que de novo o havia acompanhado à regional, confirmou o relato à polícia.
W. cedeu à polícia a fita e cópias dos cheques que deu a Dinorá. Três deles foram depositados na conta de uma rede de supermercados, com o nome de Pires no verso.


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