São Paulo, terça, 23 de março de 1999
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TRÁFICO
Nova estrutura vai integrar vários órgãos no combate ao crime
Governo anuncia a criação do Sistema Nacional Antidrogas

WILLIAM FRANÇA
AUGUSTO GAZIR
da Sucursal de Brasília

Sete meses após ser criada, a Secretaria Nacional Antidrogas ganhou a disputa com a Polícia Federal e passa a ser o braço operacional do combate ao narcotráfico no país. A PF vai seguir a política traçada pela Casa Militar da Presidência, órgão central do novo sistema.
Hoje, segundo a Folha apurou, o presidente Fernando Henrique Cardoso fará o anúncio da criação do Sistema Nacional Antidrogas. Além da tentativa de integrar os vários órgãos federais na repressão ao tráfico, na prevenção e no tratamento de dependentes, a nova estrutura antidrogas traz como novidade o envolvimento direto dos Estados.
A nova estrutura, ainda mantida parcialmente sob sigilo, vem sendo desenhada desde novembro. No dia 31 deste mês, FHC dará início oficialmente ao novo sistema ao reunir representantes dos Estados e dos vários organismos federais envolvidos numa reunião no Palácio do Planalto.

Tripé de combate
Um ponto-chave do sistema será a rede de comunicação interligando uma série de pessoas e de entidades, que cuidará do combate ao narcotráfico. Essa rede será usada para acionar a "força-tarefa", denominação dada ao tripé composto por órgãos de polícia (como a Polícia Federal e as polícias civis estaduais), de inteligência (como os da Receita Federal ou da Agência Brasileira de Inteligência) e de Justiça (como o Ministério Público ou a Justiça Federal).
As ações dessa "força-tarefa" serão coordenadas pela secretaria Antidrogas. Dependendo da necessidade e da região onde for desenvolvida a missão, outros órgãos governamentais poderão ser acionados -a Polícia Rodoviária Federal, as Forças Armadas, o Ibama e a Funai, por exemplo.
A idéia é fazer um trabalho integrado que, além do combate ao tráfico de drogas, possibilite a repressão conjunta a delitos conexos, como lavagem de dinheiro, tráfico de armas e contrabando.
Armas, drogas e contrabando muitas vezes entram juntos no país em vôos clandestinos ou usam as mesmas rotas de escoamento e de distribuição.
Essa "força-tarefa" visa também inibir a especialização de grupos organizados, que começam com o contrabando e acabam comercializando drogas, devido à ausência de repressão. O governo dispõe de informações de que grupos que há 30 anos contrabandeavam uísque hoje comercializam e distribuem drogas.
A rede de comunicações terá interligações ainda com as polícias estaduais, de preferência com grupos treinados no combate ao narcotráfico. O primeiro dos convênios deve ser assinado com o Espírito Santo.
O governo quer alterar a atual situação, em que os governadores estão gastando dinheiro nos grandes centros para combater a criminalidade, na maior parte dela em ocorrências envolvendo drogas, em vez de impedir que ela seja distribuída no Estado.


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