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MENINAS DO BRASIL
Homens jovens da periferia são principais vítimas da criminalidade, segundo pesquisa Seade
Área violenta reduz expectativa de vida
da Reportagem Local
Na cidade de São Paulo, a violência praticada por jovens e cometida contra eles é tão grande
que acaba se refletindo nas pesquisas sobre expectativa de vida.
Além de produzir estatísticas
que comprovam a redução de esperança de vida dos homens, os
crimes praticados nessa faixa da
população fazem com que mulheres tenham de enterrar seus maridos ainda na adolescência.
De acordo com dados apurados
pela Fundação Seade (Serviço Estadual de Análise de Dados), a expectativa de vida dos moradores
de Guaianazes (zona leste), um
dos distritos mais violentos da cidade, é 12 anos menor do que a esperança de vida ao nascer dos habitantes de bairros como Jardim
Paulista, Consolação e Perdizes.
O Seade revela que, enquanto
um morador de Guaianazes, ao
nascer, tem uma expectativa de
64,5 anos, o dos bairros nobres
tem 76,5 anos.
Na prática, como as mortes violentas atingem principalmente jovens do sexo masculino, são eles,
na maioria, que têm a expectativa
de vida reduzida.
"Há uma tendência, verificada
principalmente nos bairros mais
violentos, de uma desproporção
entre a população feminina e a
masculina", diz Celso Simões, demógrafo do IBGE.
Estatísticas do Pro-Aim (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade da Prefeitura de São Paulo) mostram
que, no ano passado, 2.826 jovens
entre 15 e 24 anos morreram no
município de São Paulo vítimas
da violência. Desse total, 91,6%
eram do sexo masculino.
"Aqui, nas favelas, a maioria das
casas é chefiada por mulheres",
diz a coordenadora da Pastoral da
Criança, Maria Ligia Placona, responsável pela zona sul de São
Paulo. "Os homens morreram, foram embora ou estão presos."
A redução da expectativa de vida reforça as estatísticas de violência. As pessoas vivem menos
anos justamente onde ocorrem
mais episódios violentos.
Além de Guaianazes, outros
dois distritos lideram o ranking
da violência em São Paulo são Jardim Ângela (zona sul) e Brasilândia (zona norte). Nesses locais, a
esperança de vida é de 67,8 anos e
65,5 anos, respectivamente.
Ao analisar as mortes violentas
ocorridas em 1999, nos 96 distritos da cidade, pesquisadores do
Pro-Aim concluíram que os dez
mais violentos concentram 36,7%
do total de mortes. Os dez menos
violentos respondem por 1%.
Analistas da Seade explicam
que a explosão de violência na periferia é consequência da exclusão
social e do tráfico. Segundo eles, a
chamada "onda jovem" também
é uma das responsáveis pela ocorrência de atos violentos na periferia da cidade. Trata-se de fenômeno demográfico no qual se verifica a maior participação já registrada da faixa etária relativa à adolescência na população do país.
O que torna esse fenômeno "explosivo" e coloca os jovens como
protagonistas e vítimas preferenciais de assassinatos é o fato de
grande parte dessa população
morar longe do poder público, na
periferia, onde há poucas opções
de lazer e de emprego. Por falta do
que fazer, muitos jovens são estimulados para a prática de crime.
Esses fatores, o tráfico de drogas
e a desagregação familiar, a qual
estão sujeitas às pessoas que moram nesse ambiente, são algumas
das explicações para a explosão
de violência entre os jovens.
(ANTÔNIO GOIS e GABRIELA ATHIAS)
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