São Paulo, domingo, 23 de abril de 2000


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Homens jovens da periferia são principais vítimas da criminalidade, segundo pesquisa Seade
Área violenta reduz expectativa de vida

da Reportagem Local

Na cidade de São Paulo, a violência praticada por jovens e cometida contra eles é tão grande que acaba se refletindo nas pesquisas sobre expectativa de vida.
Além de produzir estatísticas que comprovam a redução de esperança de vida dos homens, os crimes praticados nessa faixa da população fazem com que mulheres tenham de enterrar seus maridos ainda na adolescência.
De acordo com dados apurados pela Fundação Seade (Serviço Estadual de Análise de Dados), a expectativa de vida dos moradores de Guaianazes (zona leste), um dos distritos mais violentos da cidade, é 12 anos menor do que a esperança de vida ao nascer dos habitantes de bairros como Jardim Paulista, Consolação e Perdizes.
O Seade revela que, enquanto um morador de Guaianazes, ao nascer, tem uma expectativa de 64,5 anos, o dos bairros nobres tem 76,5 anos.
Na prática, como as mortes violentas atingem principalmente jovens do sexo masculino, são eles, na maioria, que têm a expectativa de vida reduzida.
"Há uma tendência, verificada principalmente nos bairros mais violentos, de uma desproporção entre a população feminina e a masculina", diz Celso Simões, demógrafo do IBGE.
Estatísticas do Pro-Aim (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade da Prefeitura de São Paulo) mostram que, no ano passado, 2.826 jovens entre 15 e 24 anos morreram no município de São Paulo vítimas da violência. Desse total, 91,6% eram do sexo masculino.
"Aqui, nas favelas, a maioria das casas é chefiada por mulheres", diz a coordenadora da Pastoral da Criança, Maria Ligia Placona, responsável pela zona sul de São Paulo. "Os homens morreram, foram embora ou estão presos."
A redução da expectativa de vida reforça as estatísticas de violência. As pessoas vivem menos anos justamente onde ocorrem mais episódios violentos.
Além de Guaianazes, outros dois distritos lideram o ranking da violência em São Paulo são Jardim Ângela (zona sul) e Brasilândia (zona norte). Nesses locais, a esperança de vida é de 67,8 anos e 65,5 anos, respectivamente.
Ao analisar as mortes violentas ocorridas em 1999, nos 96 distritos da cidade, pesquisadores do Pro-Aim concluíram que os dez mais violentos concentram 36,7% do total de mortes. Os dez menos violentos respondem por 1%.
Analistas da Seade explicam que a explosão de violência na periferia é consequência da exclusão social e do tráfico. Segundo eles, a chamada "onda jovem" também é uma das responsáveis pela ocorrência de atos violentos na periferia da cidade. Trata-se de fenômeno demográfico no qual se verifica a maior participação já registrada da faixa etária relativa à adolescência na população do país.
O que torna esse fenômeno "explosivo" e coloca os jovens como protagonistas e vítimas preferenciais de assassinatos é o fato de grande parte dessa população morar longe do poder público, na periferia, onde há poucas opções de lazer e de emprego. Por falta do que fazer, muitos jovens são estimulados para a prática de crime.
Esses fatores, o tráfico de drogas e a desagregação familiar, a qual estão sujeitas às pessoas que moram nesse ambiente, são algumas das explicações para a explosão de violência entre os jovens.
(ANTÔNIO GOIS e GABRIELA ATHIAS)



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