São Paulo, segunda-feira, 23 de abril de 2001

Próximo Texto | Índice

NARCOTRÁFICO

Para país vizinho, traficante é prova de envolvimento da guerrilha com drogas; extradição será demorada

Brasil e Colômbia disputam Beira-Mar

DA SUCURSAL DO RIO

O governo brasileiro pediu que o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, seja expulso da Colômbia para que possa cumprir pena no Brasil. Mas o ministro da Justiça, José Gregori, diz que não é possível saber quando ele será repatriado.
O país vizinho, que capturou o traficante no sábado, tem interesse em mantê-lo preso para esclarecer o envolvimento do grupo guerrilheiro das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) com o criminoso brasileiro e, consequentemente, com o tráfico internacional de drogas.
"É previsível que o governo colombiano, tendo capturado um delinquente desse calibre, queira examinar a vida desse camarada internamente", afirmou Gregori, que disse esperar para hoje a resposta sobre quando ele será entregue às autoridades brasileiras. "É um problema de negociação."
O governo colombiano recebeu dois pedidos do Brasil relativos a Beira-Mar: um de extradição e outro de expulsão. No primeiro caso, o processo seria mais demorado, pois teria de passar pela Fiscalía General de Colombia (órgão independente e investigativo da Justiça) e pela Suprema Corte.
No entanto, segundo o ministro brasileiro, o processo de expulsão está condicionado à situação do traficante perante à Justiça colombiana. Apenas se não houver nenhum inquérito contra ele, poderá ser expulso.
O porta-voz do Exército colombiano, capitão Fernando Ávila, contudo, afirmou que a Fiscalía tem uma ordem de prisão emitida contra Beira-Mar por tráfico.
Além disso, na avaliação de militares colombianos ouvidos pela Folha, o repatriamento de Beira-Mar para o Brasil pode vir a esbarrar no interesse do próprio governo daquele país em elucidar a suposta ligação do narcotráfico com as Farc. O criminoso é acusado de trocar armas por drogas.
Na avaliação do chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal, Getúlio Bezerra, seria legítimo se a Colômbia decidisse investigar a conexão de Beira-Mar e do tráfico com as Farc. "Não podemos esquecer que ele é uma prova viva disso."
Ao divulgar a prisão do traficante, o presidente da Colômbia, Andrés Pastrana, disse em Québec, onde participava da Cúpula das Américas, que "agora, as Farc terão que provar que não têm ligação com o narcotráfico".
Apesar disso, Pastrana declarou que o pedido de expulsão para o Brasil está sendo analisado.
Gregori disse que teve conhecimento "não oficial" dos rumores de que o governo norte-americano estaria interessado em que Beira-Mar fosse extraditado para os EUA. Segundo ele, se for verdadeira, essa pretensão "não tem propósito". "O Brasil não abre mão de fazer as apurações do inquérito e o ordenamento devido aqui no Brasil", afirmou.


Colaboraram os enviados especiais a Québec (Canadá), a Sucursal de Brasília e as agências internacionais.


Próximo Texto: Traficante diz ser criador de gado
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.