São Paulo, segunda-feira, 23 de abril de 2001

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NARCOTRÁFICO

Traficante diz ser criador de gado

DA SUCURSAL DO RIO

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Fernandinho Beira-Mar, negou ontem qualquer ligação com os guerrilheiros da Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e afirmou que estava na Colômbia porque é criador de gado.
Condenado a 30 anos de prisão pela Justiça brasileira por tráfico de drogas, Beira-Mar foi preso no sábado na região de Vichada, a cerca de 100 km da Venezuela, após o avião que viajava ter sido forçado a pousar na selva na última quinta-feira pela Força Aérea da Colômbia.
Segundo militares que o prenderam, Beira-Mar foi encontrado na selva faminto, sedento e desidratado. Ele não reagiu à prisão, mas mostrou várias cédulas falsas de identidade.
Ele foi apresentado ontem à imprensa pelas autoridades colombianas na base militar de Marandúa, a 870 km de Bogotá. Barbudo, tinha o braço direito enfaixado e dois dedos a menos na mão esquerda, que perdeu no tiroteio travado com o Exército colombiano em março.
Ele pouco falou com os jornalistas. "Não tenho vínculos com as Farc e eles não me deram proteção alguma", disse. "Yo soy ganadero (criador de gado)."
Beira-Mar era o traficante mais procurado na América Latina. Estava foragido desde 1997, quando escapou de uma prisão em Belo Horizonte. Ele começou no tráfico em 1990 na favela Beira-Mar (daí seu apelido), em Duque de Caxias (Baixada Fluminense, no Rio). Em pouco tempo se tornou um dos maiores fornecedores de cocaína no atacado do país.
Depois de fugir de Belo horizonte, Beira-Mar foi para o Paraguai. Estava na Colômbia desde o ano passado, quando teria se associado às Farc.
Na madrugada de ontem, quatro delegados e dois agentes da Polícia Federal foram despachados para Bogotá, em um aviação da FAB (Força Aérea Brasileira) a fim de trazer Beira-Mar. A FAB também montou um esquema em Tabatinga (AM), na fronteira com a Colômbia, para receber o traficante.
O secretário de Segurança Pública do Rio, Josias Quintal, também foi à Colômbia acompanhado de dois delegados da Delegacia Anti-Sequestro e do major da Polícia Militar Rogério Seabra.
De lá, Quintal, reagiu à presença da PF na Colômbia. Segundo a assessoria de imprensa do secretário, Quintal reclamou que "a PF quer aparecer". O ministro da Justiça. José Gregori, disse que "não tem interesse em polemizar" com o secretário. "Tenho respeito pelas autoridades do Rio", afirmou.
A Polícia Civil do Rio está atenta à possível guerra entre quadrilhas rivais. Segundo a avaliação policial, a prisão do "Pablo Escobar brasileiro", como Beira-Mar é tratado pelos colombianos, poderá resultar em desabastecimento de vários pontos de venda de drogas, o que poderia incitar a disputa de outros chefes de tráfico. Ontem, a polícia ocupou a favela Beira-Mar, em Duque de Caxias.



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