São Paulo, segunda-feira, 23 de abril de 2001

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SOS INFÂNCIA

Sem o SOS Criança e com instituições já lotadas, adolescentes não conseguem encontrar abrigo de dia ou à noite

Entidades não têm como atender jovens

DA REPORTAGEM LOCAL

No dia 18, quarta-feira, os funcionários do Fórum do Ipiranga, centro, tentaram durante quatro horas conseguir uma vaga para a menina I.,12, vítima de violência familiar, encontrada em Mogi das Cruzes, região metropolitana.
"Ligamos para todas as instituições do Estado e da prefeitura, mas acabamos pedindo ao juiz [José Roberto Furquim" que expedisse uma ordem para obrigar o SOS a aceitar a menina", disse uma das técnicas do fórum.
Como mandado judicial tem de ser cumprido, o SOS mantém 32 vagas em um albergue na Bela Vista, centro, para essas ocasiões.
José Augusto Rodrigues, diretor do SOS, informou à Folha, na quinta-feira à noite, que o fórum teria de buscar a menina até hoje.
Passava de 1h da manhã, quando, na sexta-feira passada, soou a campainha da Casa Arte e Vida, um albergue para jovens de até 17 anos, em Santa Cecília, no centro.
"Encomenda para vocês", ironizou um dos policiais militares quando o funcionário abriu a porta. Eles "entregaram" D.,16, um menino aparentando deficiência mental, que teria sido encontrado na zona leste.
D. dormiu em um colchão no chão, na condição de hóspede número 40 do albergue que tem capacidade para 30 jovens.
"Depois do fechamento do SOS, acabaram os colchões improvisados e não podemos receber mais ninguém", disse um funcionário.
Esse projeto e o 100% Gente, no centro, que já está lotado, são os dois albergues noturnos para crianças e adolescentes da cidade.
Hoje são poucas as instituições que improvisam acomodações.
"Não colocamos crianças dormindo em colchões no chão", diz Carolina Domingues, gerente técnica da Fundação Francisca Franco, que mantém cinco abrigos. Domingues diz que nunca aconteceu de os albergues da fundação lotarem no verão. "Já estamos sem vaga e ainda recebemos solicitações diárias", diz ela.
"A procura por vagas aumentou 40% desde o fechamento do SOS, mas decidimos não colocar crianças dormindo em colchões no chão", informa Adão Geraldo Duarte, do 100% Gente.

Rua durante o dia
O Centro Comunitário da Criança e do Adolescente, na Liberdade, região central, atendeu, no dia 19, 48% a mais do que os 35 jovens que vinha atendendo antes do fechamento do SOS. Mas como o local oferece apenas atividades diurnas, para adolescentes sadios não há tanto problema.O drama é na hora de dormir.
Na Casa Arte e Vida, os jovens entram às 19h e, antes das 7h, têm de estar de café da manhã tomado para ir de novo para a rua. A entidade fecha e só reabre à noite.
Um garoto como D., incapaz de ficar sozinho na rua, é um problema para os abrigos noturnos, como o Casa Arte e Vida, que fecham as portas durante o dia.
"Se a demanda por vaga for para jovens do sexo masculino e ainda com deficiência física ou mental não tem jeito", diz uma psicóloga do Fórum Central, explicando que o problema é menor para crianças com menos de seis anos.
Para não virar sem-teto, T.T.O, 16, que "morava" no SOS Criança, ao saber do fechamento da entidade, tomou a iniciativa de ligar para instituições conveniadas para "cavar" uma vaga. Conseguiu no programa 100% Gente.
"Se não tivesse me virado, eu estaria por aí", resumiu o garoto. Vivendo desde os sete anos na rua, T. tem mais seis irmãos: três com a mãe, com quem não mantém muito contato, e outros três também na rua, que ele não sabe onde estão. (GA e EM)


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