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Sobrevida de bicho pode ter sido de um mês
DA REPORTAGEM LOCAL
O Zoológico de São Paulo acredita que houve apenas três momentos de envenenamento dos
animais em suas instalações. Por
essa teoria, não teria havido nenhum ataque ao acervo desde 19
de fevereiro, quando a fundação
adotou medidas de segurança,
mesmo que mortes causadas pelo
monofluoracetato de sódio tenham ocorrido pelo menos até 15
de março, como demostram os
laudos apresentados pela Unesp.
Inicialmente tomada com reservas pela polícia e por veterinários
do zôo, a tese da fundação começa
a ter respaldo científico. Estudando a ação do monofluoracetato de
sódio -um pesticida com uso
proibido como raticida desde
1997-, o diretor administrativo
do zôo, o veterinário e patologista
João Batista da Cruz, identificou
um começo de recuperação das
células do tecido cardíaco dos
exemplares de micos e sagüis que
morreram recentemente.
A reação celular, uma espécie de
cicatriz, começa a se formar 15 ou
20 dias depois da agressão ao tecido -no caso, o envenenamento.
Por essa teoria, os bichos continuariam vivos, mas com seqüelas.
Morreriam ao menor esforço adicional do músculo cardíaco
-com um susto, por exemplo.
Um dos raros estudos sobre a
ação do monofluoracetato de sódio indica que bois morreram
após 12 dias da ingestão do produto. Isso, porém, pode variar em
proporções ignoradas conforme a
quantidade de veneno, metabolismo, fisiologia e peso do animal.
"A DL 50 [dose letal para 50%
dos exemplares expostos ao produto] para cães de 20 kg é 70 microgramas por quilo de peso do
animal. Isso foi testado em 718 bichos, e 359 morreram imediatamente. Mas o que aconteceu com
os outros? Não morreram depois?", questiona Batista da Cruz.
Se o zôo está certo, volta a ganhar força a tese de que o envenenamento dos animais -que se
deu majoritariamente pela comida, é consenso- ocorreu basicamente fora dos recintos, antes da
distribuição de suas rações.
Isso porque foi a partir de 19 de
fevereiro que 16 dos funcionários
envolvidos com a alimentação
dos animais foram afastados, o
preparado e entrega da comida
-além do manejo dos bichos-
passaram a ter duplo controle
-duas pessoas para cada tarefa,
com fiscalização mútua- e as refeições começaram a ser retiradas
mediante assinatura de recibo.
Um detalhe, porém, chama a
atenção: os tratadores sempre comeram a comida dos bichos no
trajeto até as jaulas. Ou seja: ou os
criminosos se arriscaram a matá-los também ou eles sabiam que
era melhor não mexer nos pratos.
A única morte que contraria um
pouco a tese do veneno nas rações
é a do filhote de bisão, em cujo estômago foi encontrada uma esponja. Seletivo, o animal não comeria o material se nele não houvesse um atrativo -cachaça, doce, óleo. Como ele estava desmamando, talvez essa tenha sido a
forma de atacá-lo.
(SC e FL)
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