São Paulo, sexta-feira, 23 de abril de 2004

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Sobrevida de bicho pode ter sido de um mês

DA REPORTAGEM LOCAL

O Zoológico de São Paulo acredita que houve apenas três momentos de envenenamento dos animais em suas instalações. Por essa teoria, não teria havido nenhum ataque ao acervo desde 19 de fevereiro, quando a fundação adotou medidas de segurança, mesmo que mortes causadas pelo monofluoracetato de sódio tenham ocorrido pelo menos até 15 de março, como demostram os laudos apresentados pela Unesp.
Inicialmente tomada com reservas pela polícia e por veterinários do zôo, a tese da fundação começa a ter respaldo científico. Estudando a ação do monofluoracetato de sódio -um pesticida com uso proibido como raticida desde 1997-, o diretor administrativo do zôo, o veterinário e patologista João Batista da Cruz, identificou um começo de recuperação das células do tecido cardíaco dos exemplares de micos e sagüis que morreram recentemente.
A reação celular, uma espécie de cicatriz, começa a se formar 15 ou 20 dias depois da agressão ao tecido -no caso, o envenenamento.
Por essa teoria, os bichos continuariam vivos, mas com seqüelas. Morreriam ao menor esforço adicional do músculo cardíaco -com um susto, por exemplo.
Um dos raros estudos sobre a ação do monofluoracetato de sódio indica que bois morreram após 12 dias da ingestão do produto. Isso, porém, pode variar em proporções ignoradas conforme a quantidade de veneno, metabolismo, fisiologia e peso do animal.
"A DL 50 [dose letal para 50% dos exemplares expostos ao produto] para cães de 20 kg é 70 microgramas por quilo de peso do animal. Isso foi testado em 718 bichos, e 359 morreram imediatamente. Mas o que aconteceu com os outros? Não morreram depois?", questiona Batista da Cruz.
Se o zôo está certo, volta a ganhar força a tese de que o envenenamento dos animais -que se deu majoritariamente pela comida, é consenso- ocorreu basicamente fora dos recintos, antes da distribuição de suas rações.
Isso porque foi a partir de 19 de fevereiro que 16 dos funcionários envolvidos com a alimentação dos animais foram afastados, o preparado e entrega da comida -além do manejo dos bichos- passaram a ter duplo controle -duas pessoas para cada tarefa, com fiscalização mútua- e as refeições começaram a ser retiradas mediante assinatura de recibo.
Um detalhe, porém, chama a atenção: os tratadores sempre comeram a comida dos bichos no trajeto até as jaulas. Ou seja: ou os criminosos se arriscaram a matá-los também ou eles sabiam que era melhor não mexer nos pratos.
A única morte que contraria um pouco a tese do veneno nas rações é a do filhote de bisão, em cujo estômago foi encontrada uma esponja. Seletivo, o animal não comeria o material se nele não houvesse um atrativo -cachaça, doce, óleo. Como ele estava desmamando, talvez essa tenha sido a forma de atacá-lo. (SC e FL)


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