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MANIFESTO SOBRE RODAS
Objetivo do ato é reclamar das regras que limitam circulação de atletas dentro do campus
"Bicicletada" marca protesto contra veto da USP a ciclistas
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma "bicicletada" na segunda
marcará o protesto ao fechamento da USP (Universidade de São
Paulo) para o treino de ciclistas. A
proibição, que começa a valer depois de amanhã, tem como base o
alto índice de reclamações pela
presença desses atletas no campus da capital, segundo a prefeitura da Cidade Universitária.
Polêmica, a medida chamou a
atenção para as condições precárias que os ciclistas enfrentam hoje em São Paulo. Segundo dados
levantados no ano passado pela
prefeitura, há só 8 km de faixas
exclusivas para ciclismo nas vias
da cidade. A orla de Santos, litoral
paulista, possui 5 km de ciclovia.
Na falta de opções, o campus da
USP tornou-se o único espaço, na
capital, adequado à atividade na
avaliação de Gilson Alvaristo, diretor técnico da Federação Paulista de Ciclismo. "Nas ruas corremos perigo e, nos parques, podemos machucar as crianças."
A medida visa coibir os "pelotões" -ou os ciclistas-atletas, como escrito na resolução da prefeitura do campus-, mas não deve
atingir quem quiser passear com
sua bicicleta pelas vias da USP.
A "bicicletada" sairá do parque
Ibirapuera, zona sul da cidade, às
20h, rumo à universidade. "Queremos conversar com o pessoal
do conselho da universidade para
pedir a construção de uma ciclovia na USP", diz o analista de sistemas André Pasqualini, um dos
organizadores da manifestação.
O protesto, diz Pasqualini, não é
ligado a nenhuma entidade específica. "Uma das nossas intenções
é justamente mostrar aos ciclistas
que, se não nos articularmos,
nunca iremos ganhar nada."
A Federação Paulista de Ciclismo também pretende sugerir à
USP a criação de um espaço voltado ao ciclismo -um plano de
propostas está sendo elaborado
pela entidade, afirma Alvaristo.
"Temos que sentar para discutir.
Não se pode simplesmente proibir todo mundo de usar o espaço", afirma o diretor da federação.
Uma das ações previstas pela
entidade, segundo Alvaristo, é um
trabalho educativo com os próprios associados (3.000 atletas). O
objetivo é orientá-los a respeitar o
espaço dos carros nas vias do
campus -uma das queixas ligadas aos ciclistas é que os "pelotões", como os grupos dos atletas
são chamados, ocupam muitas
faixas das ruas da USP, prejudicando o trânsito no campus.
Uma amostra do conflito que se
instalou no local são as cinco comunidades com o tema "eu odeio
os ciclistas da USP" que existem
no orkut (rede virtual de relacionamentos). A maior possui 286
membros -muitos dos quais,
porém, são ciclistas que entraram
na comunidade para defender sua
posição. De pacíficas as discussões não têm nada -são xingamentos, ameaças e reclamações
mútuas de desrespeito.
Planos regionais
Aprovados na Câmara Municipal no ano passado, os planos diretores regionais (que definem as
propostas urbanísticas para cada
uma das 31 subprefeituras de São
Paulo) prevêem a criação de dezenas de ciclovias na cidade.
A proposta não está ligada apenas à questão do lazer, mas também à valorização da bicicleta como um meio de transporte. Para
que isso ocorra, porém, também é
necessária a construção de bicicletários junto às estações de metrô e ônibus, de modo que os
usuários possam utilizar esses
meios de forma integrada.
Atualmente, só existem faixas
exclusivas para ciclismo nas avenidas Brigadeiro Faria Lima, Sumaré e Água Espraiada, além de
um circuito no Jardim Lusitânia.
São trechos que, na avaliação de
ciclistas ouvidos pela Folha, levam "do nada ao lugar nenhum".
O plano diretor da Cidade Ademar (zona sul) é o que propôs o
maior número de ciclovias -11,
dos quais nove deles seriam instalados próximos à represa Billings.
Já o plano de Pinheiros (zona oeste) prevê a criação de cinco ciclovias até o ano que vem.
A reportagem não conseguiu
ouvir a prefeitura ontem para saber se essas propostas já começaram a ser implementadas ou não.
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