São Paulo, sábado, 23 de abril de 2005

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MANIFESTO SOBRE RODAS

Objetivo do ato é reclamar das regras que limitam circulação de atletas dentro do campus

"Bicicletada" marca protesto contra veto da USP a ciclistas

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma "bicicletada" na segunda marcará o protesto ao fechamento da USP (Universidade de São Paulo) para o treino de ciclistas. A proibição, que começa a valer depois de amanhã, tem como base o alto índice de reclamações pela presença desses atletas no campus da capital, segundo a prefeitura da Cidade Universitária.
Polêmica, a medida chamou a atenção para as condições precárias que os ciclistas enfrentam hoje em São Paulo. Segundo dados levantados no ano passado pela prefeitura, há só 8 km de faixas exclusivas para ciclismo nas vias da cidade. A orla de Santos, litoral paulista, possui 5 km de ciclovia.
Na falta de opções, o campus da USP tornou-se o único espaço, na capital, adequado à atividade na avaliação de Gilson Alvaristo, diretor técnico da Federação Paulista de Ciclismo. "Nas ruas corremos perigo e, nos parques, podemos machucar as crianças."
A medida visa coibir os "pelotões" -ou os ciclistas-atletas, como escrito na resolução da prefeitura do campus-, mas não deve atingir quem quiser passear com sua bicicleta pelas vias da USP.
A "bicicletada" sairá do parque Ibirapuera, zona sul da cidade, às 20h, rumo à universidade. "Queremos conversar com o pessoal do conselho da universidade para pedir a construção de uma ciclovia na USP", diz o analista de sistemas André Pasqualini, um dos organizadores da manifestação.
O protesto, diz Pasqualini, não é ligado a nenhuma entidade específica. "Uma das nossas intenções é justamente mostrar aos ciclistas que, se não nos articularmos, nunca iremos ganhar nada."
A Federação Paulista de Ciclismo também pretende sugerir à USP a criação de um espaço voltado ao ciclismo -um plano de propostas está sendo elaborado pela entidade, afirma Alvaristo. "Temos que sentar para discutir. Não se pode simplesmente proibir todo mundo de usar o espaço", afirma o diretor da federação.
Uma das ações previstas pela entidade, segundo Alvaristo, é um trabalho educativo com os próprios associados (3.000 atletas). O objetivo é orientá-los a respeitar o espaço dos carros nas vias do campus -uma das queixas ligadas aos ciclistas é que os "pelotões", como os grupos dos atletas são chamados, ocupam muitas faixas das ruas da USP, prejudicando o trânsito no campus.
Uma amostra do conflito que se instalou no local são as cinco comunidades com o tema "eu odeio os ciclistas da USP" que existem no orkut (rede virtual de relacionamentos). A maior possui 286 membros -muitos dos quais, porém, são ciclistas que entraram na comunidade para defender sua posição. De pacíficas as discussões não têm nada -são xingamentos, ameaças e reclamações mútuas de desrespeito.

Planos regionais
Aprovados na Câmara Municipal no ano passado, os planos diretores regionais (que definem as propostas urbanísticas para cada uma das 31 subprefeituras de São Paulo) prevêem a criação de dezenas de ciclovias na cidade.
A proposta não está ligada apenas à questão do lazer, mas também à valorização da bicicleta como um meio de transporte. Para que isso ocorra, porém, também é necessária a construção de bicicletários junto às estações de metrô e ônibus, de modo que os usuários possam utilizar esses meios de forma integrada.
Atualmente, só existem faixas exclusivas para ciclismo nas avenidas Brigadeiro Faria Lima, Sumaré e Água Espraiada, além de um circuito no Jardim Lusitânia. São trechos que, na avaliação de ciclistas ouvidos pela Folha, levam "do nada ao lugar nenhum".
O plano diretor da Cidade Ademar (zona sul) é o que propôs o maior número de ciclovias -11, dos quais nove deles seriam instalados próximos à represa Billings. Já o plano de Pinheiros (zona oeste) prevê a criação de cinco ciclovias até o ano que vem.
A reportagem não conseguiu ouvir a prefeitura ontem para saber se essas propostas já começaram a ser implementadas ou não.


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