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OPINIÃO
A Sabesp e as eleições
NIVALDO SANTANA
O governador Mário Covas, candidato à reeleição, está de olho em
R$ 2 bilhões para continuar sua
peregrinação pelo Estado, inaugurar obras com visibilidade eleitoral e dar a impressão de que seu
governo é empreendedor.
Esses R$ 2 bilhões virão da pretendida venda de 20% das ações da
Sabesp para um grupo privado
-ou um "parceiro estratégico",
como o governo prefere chamar-
até 10 de julho.
A venda de ações e a transferência da gestão para um sócio privado podem trazer vários problemas. Por falta de rentabilidade, é
bem provável que não haja interesse na manutenção e na expansão do setor às áreas mais carentes. Tampouco o dinheiro obtido
pelo Estado com a venda das ações
será investido em saneamento.
Só isso já seria suficiente para
que o governo não se precipitasse
em vender parte de uma empresa
lucrativa. Principalmente porque
a Sabesp não depende do tal parceiro para ser eficiente. Em 97, a
empresa obteve um lucro de R$
576 milhões. A rentabilidade da
empresa passou de -2,82% em 94
para 5,66% em 97, o que a transformou em uma das cinco empresas mais lucrativas do país.
Nos últimos três anos, a Sabesp
conseguiu mais de 2 milhões de
novos consumidores. A companhia atende a 24 milhões de pessoas em 7 milhões de domicílios.
Dos 645 municípios de São Paulo,
a estatal abastece 358.
O modelo proposto por Covas é
uma tentativa de driblar a legislação, uma vez que são os municípios que detêm o poder concedente na área de saneamento básico. O
Estado está impedido de repassar
o controle acionário para os grandes especuladores que vêm arrematando os serviços públicos.
O escândalo do negócio salta à
vista: Covas pretende vender 20%
das ações ordinárias da empresa e
conceder ao parceiro estratégico,
no mínimo, três dos nove membros do conselho de administração e três das oito diretorias.
Segundo orientação das consultorias contratadas (Bozano, Simonsen e Santander), os detentores de só 20% das ações teriam direito às importantes diretorias
econômico-financeiras, de distribuição e de produção de água na
região metropolitana. Mais: o sócio estratégico terá poder de veto e
dividendos mínimos garantidos.
Especialistas apontam outro caminho para universalizar o saneamento, com tarifas socialmente
justas. A meta da Sabesp não é dividir o lucro entre os acionistas, e
sim investir o que arrecada para
melhor atender à população.
Como a preocupação social não
é prioridade da iniciativa privada,
tudo indica que o sócio vai operar
os serviços mais lucrativos, garantindo os seus bônus. O ônus, como
sempre, fica para o usuário, que,
além dos serviços degradados, enfrentará tarifas mais pesadas, das
quais sairá o lucro dos acionistas.
Os problemas no Rio são bom
exemplo do que significa a privatização de serviços públicos essenciais. Sem falar em países como a
Argentina, que, ao privatizar o saneamento, tornou-o um martírio
para a população. O "sócio estratégico" de lá é o mesmo que está
de olho na Sabesp e, provavelmente, garantirá cofres cheios para
obras eleitoreiras do governador.
Nivaldo Santana, 44, é deputado estadual, líder do PC do B na Assembléia Legislativa e
ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores
em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado
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