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São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2003

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VIOLÊNCIA

Empresário assassinado com sete tiros pode ter sido vítima de extorsão

Policial admite participação em crime

DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Jihad Ahmad Kassem, 33, assassinado com sete tiros no último dia 12 na zona sul de São Paulo, pode ter sido vítima de uma tentativa de extorsão cometida por um policial civil do DHPP (departamento de homicídios) e por um "ganso" -gíria para informante.
Ontem, a Corregedoria da Polícia Civil e o DHPP informaram que o agente -motorista- Wendel Souza da Silva, 28, da equipe A-Sul, confessou ter participado do crime ao ser ouvido pela segunda vez. No primeiro depoimento, ele negou as acusações.
Silva foi reconhecido por testemunhas como sendo um dos dois homens que prenderam Kassem, por volta das 13h do dia 12, em um café na Vila Mariana (zona sul da capital). O empresário, que é libanês naturalizado brasileiro, saiu algemado pelos desconhecidos que diziam ser policiais e desapareceu. O agente acabou preso quatro dias depois da ação.
Segundo o diretor do DHPP, Domingos Paulo Neto, Silva disse em depoimento que fez a prisão -não-comunicada a seus superiores- com a ajuda do informante. Para isso, ambos usaram uma Blazer do DHPP, apesar de o agente estar de folga nesse dia.
O assassinato ocorreu em uma estrada de terra na região de Parelheiros (zona sul). Conforme depoimento do agente, Kassem reagiu e acabou baleado pelo informante com a arma que teria sido apreendida com ele. "Pelas circunstâncias, não descarto que quisessem extorquir dinheiro da vítima", disse Neto.
O policial teria chegado ao empresário a partir das dicas do informante, foragido desde ontem, que o descrevia como envolvido com tráfico. O informante tem antecedentes criminais por lesão corporal e assalto.
No café, segundo o informante, Kassem entregaria cinco quilos de cocaína. O problema é que, ao ser preso, o empresário teria escondido a chave do seu carro, onde estaria a droga. Por isso, os três teriam seguido até um matagal em Parelheiros para "convencê-lo" a entregar os pacotes de cocaína.
A Corregedoria, porém, não encontrou vestígios de droga no Astra do empresário.
As três armas do agente -duas pistolas e um revólver- foram enviadas para perícia com o objetivo de descobrir se não saíram delas os sete tiros que mataram Kassem.
Anteontem, a Corregedoria conseguiu a prorrogação da prisão temporária de Silva, que estava havia um ano na Polícia Civil. A polícia não informou ontem o nome do advogado do policial.
Não é a primeira vez que um policial do DHPP se envolve em um crime em horário de folga e com carro do departamento. Em março, um investigador foi acusado de causar um acidente em que duas pessoas morreram. Ele fugiu sem prestar socorro.
(ALESSANDRO SILVA)


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