São Paulo, sábado, 23 de maio de 1998

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POLÍCIA
Secretário interino nega que o número de mortes tenha sido proposital e diz que dados não foram ocultados
PM matou mais civis do que divulgou

CRISPIM ALVES
da Reportagem Local

O número de civis mortos pela Polícia Militar de São Paulo ao longo dos anos é muito maior que o que foi divulgado. Quem admite isso é o secretário interino da Segurança Pública, Luiz Antonio Alves de Souza. No entanto, ele nega, veementemente, que isso tenha sido proposital.
"Você pode chamar isso de desatenção, relaxo, incompetência, mas não de ocultação de dados", declarou Alves de Souza.
Até o mês passado, a secretaria divulgava dados relativos ao Proar (Programa de Acompanhamento de Policiais Envolvidos em Ocorrências de Alto Risco). Esse programa abrangia a PM de todo o Estado. No entanto, os dados que a secretaria divulgava eram relativos apenas à Grande São Paulo. E, mesmo assim, sempre apresentavam divergências.
O próprio comando da PM chegou a afirmar, quando a Folha revelou uma dessas divergências, que aqueles números não eram oficiais. No entanto, em nenhum momento apresentou os dados corretos, relativos ao Estado todo.
"Por que nunca foi divulgado? Porque nunca foi pedido", afirmou o coronel Carlos Alberto de Camargo, comandante-geral da PM. "Porque era pedido aquele número (do Proar). Chegamos até a dizer que aquele não era oficial. Essas coisas foram pedidas de forma errada e fornecidas, com certeza, de forma errada em função disso, não com caráter de tentar esconder alguma coisa", afirmou o coronel José Carlos Bononi, subcomandante-geral.
Alves de Souza não soube explicar a razão de isso não ter sido detectado antes. "Acho que o pessoal não se deu conta que os dados do passado retratavam apenas uma realidade parcial."
Por esse motivo, o secretário interino determinou, no dia 7 de maio, que a Polícia Militar, e também a Polícia Civil, publicassem no "Diário Oficial do Estado" todos os dados relativos à violência policial no Estado.
O primeiro relatório foi publicado ontem. Ele mostra, por exemplo, que 144 civis foram mortos pela PM nos primeiros quatro meses do ano, ou seja 44,7% dos 322 casos registrados em 97.
Ele mostra também que, de outubro do ano passado a abril deste ano -correspondente a todo o período da gestão Camargo-, a violência policial aumentou 26,8% em relação a igual período (outubro 96 a abril de 97) na gestão do coronel Claudionor Lisboa.
"E prendeu 38% a mais", rebateu Camargo, lembrando também que, com uma presença maior de policiais nas ruas, as chances de confronto também aumentaram. Além disso, o coronel ressaltou também que o número de roubos aumentou em função do crescimento do desemprego.



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