São Paulo, sábado, 23 de maio de 1998

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FOGO
Desabrigados por incêndio querem reconstruir favela Água Espraiada no mesmo local
Favelados se recusam a ir para abrigo


ANDRÉ MUGGIATI
da Reportagem Local

Os moradores da favela Água Espraiada (zona sudoeste de SP), praticamente destruída por um incêndio anteontem, se recusam a ir para um abrigo provisório, concedido pela prefeitura. Eles dizem que pretendem reconstruir a favela no mesmo local.
De acordo com um cadastramento feito pela secretaria municipal do Bem-Estar Social, 61 famílias (244 pessoas) ficaram desabrigadas.
O delegado titular do 27º DP, Antonio Carlos Palhares, abriu ontem inquérito para investigar as causas do incêndio. Ainda ontem, Palhares tomou o depoimento de alguns moradores, que afirmaram que o fogo surgiu a partir de um curto-circuito, em um poste.
Além dos depoimentos, o delegado solicitou também a realização de perícia para descobrir a origem do fogo.
Na tarde de ontem, a maioria dos desabrigados ainda continuava ao lado da favela queimada, onde haviam passado a noite.
"Daqui eu não vou sair. Não tenho para onde ir", disse Nalva de Oliveira, 42, que morava no local há nove anos.
Na hora do fogo, a maioria só teve tempo de deixar suas casas com as roupas do corpo. Durante a noite, receberam alimentos de instituições de caridade, como a Legião da Boa Vontade.
Às 11h de ontem, os bombeiros desinterditaram a favela e os moradores puderam entrar para avaliar os prejuízos. Praticamente tudo foi queimado.
Mesmo a parte da favela que não foi queimada (cerca de um terço) está condenada, segundo os bombeiros, pois os barracos feitos de tijolos correm o risco de desabar.
À tarde, os moradores começaram a retirar o entulho do terreno, onde pretendem começar a reconstruir suas casas.
A prefeitura informou que não possui vagas em projetos habitacionais para os moradores. Segundo a Secretaria do Bem-Estar Social, eles receberiam apenas cestas básicas, colchões, cobertores e seriam colocados em um abrigo provisório, se desejassem.
Até as 19h de ontem, nenhum morador havia aceitado a proposta. "O que todo mundo quer é continuar morando aqui. Se sairmos, vamos perder o terreno", disse José Apolinário de Silva, 48.



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