São Paulo, sábado, 23 de maio de 1998

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Chefe culpa crise social e pede ajuda de Deus

da Reportagem Local

Ao responder se achava difícil impedir que o ano de 1998 seja mais violento que o de 1997, o coronel Carlos Alberto de Camargo, comandante-geral da PM, disse o seguinte: "Deus queira que não. Deus queira que a crise social se resolva, que as coisas não acabem sendo encaradas apenas como caso de polícia".
"Tenho medo. Se a hipocrisia fizer com que as coisas sejam encaradas apenas como caso de polícia, aí a melhor polícia do mundo não terá fôlego para resolver."
Camargo também fez um desafio: "Tente colocar polícias de outros países aqui com as mesmas perversas regras do jogo e veja se elas conseguem fazer a metade do que a gente faz". As declarações foram feitas na favela de Heliópolis, zona sudeste de São Paulo, durante operação da PM.
O coronel voltou a criticar a atual política econômica e a falta de intervenção social nas regiões mais carentes. "O desemprego cria um clima de angústia. Na sociedade, serve de base para prosperar focos que banalizam a violência. Essa crise social é que precisa ser revertida. Ela resulta em violência urbana."
Anteontem, balanço divulgado pela Secretaria da Segurança Pública mostrou que o mês de abril apresentou o segundo maior número de homicídios dolosos (intencionais) de toda a história da Grande São Paulo (762 casos). O recorde pertence ao mês anterior (771). Esses dados levam a crer que este ano, mantida a tendência, deverá ser um dos mais violentos da história. O próprio secretário interino da Segurança, Luiz Antonio Alves de Souza, admitiu que será muito difícil diluir esse crescimento da violência ao longo do ano.

Operação
Durante a operação, Camargo percorreu vários becos escuros e apertados da favela. "Neste lugar, um tenente foi encurralado enquanto recebia tiros de AR-15."
"Isto aqui é um curso de causas da violência urbana, de degradação da sociedade." Heliópolis é a maior favela de São Paulo. Lá, moram mais de 80 mil pessoas.
"Melhorou muito. Se eles viessem sempre, seria melhor ainda", declarou o balconista José Nunes, que mora em Heliópolis há quatro anos. (CA)



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