São Paulo, domingo, 23 de junho de 2002

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SAÚDE

Paralisia facial exige tratamento rápido

DA REPORTAGEM LOCAL

Dia 1º de junho, sábado. O motorista Everton Ferreira de Oliveira, 19, acorda, olha no espelho e nota que sua boca se desviou para o lado, um dos olhos não fecha e já não consegue mais enrugar a testa. De início, pensa estar sofrendo um AVC (acidente vascular cerebral). Assustado, corre para o hospital e descobre estar com paralisia facial periférica.
Não há estatísticas oficiais sobre essa doença, caracterizada pela lesão do nervo facial, mas os números dos dois maiores serviços da capital paulista mostram que ela é bem frequente.
O Hospital das Clínicas atende, semanalmente, de dez a 15 casos novos de paralisia facial. No Instituto de Otorrinolaringologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a média semanal é de seis casos.
A paralisia da face não escolhe idade, sexo ou classe social. A causa mais frequente, presente em 60% dos casos, é o vírus da herpes simples. Oportunista, ele aproveita uma queda do sistema imunológico, um quadro de estresse ou uma mudança brusca de temperatura ambiente para se instalar.
Em resposta a esse vírus, o nervo "incha" dentro do canal ósseo, comprimindo-o e provocando uma interrupção na circulação sanguínea. É como quando a gente dorme em cima do braço e fica sem sentir a mão e o antebraço.
Esse nervo, responsável pelos impulsos dos músculos da face, é como um fio que sai do cérebro e entra no ouvido junto com os nervos da audição e do equilíbrio.
Segundo o médico Yotaka Fukuda, 57, coordenador do Instituto de Otorrinolaringologia da Unifesp, é fundamental que a pessoa procure imediatamente um médico ao sentir os sintomas da paralisia facial.
Um diagnóstico rápido sobre a causa da paralisia e um tratamento correto, afirma o médico, podem evitar sequelas irreversíveis, como a tensão dos músculos faciais, a contração involuntária do canto da boca ou ainda o fechamento do olho durante o sorriso.
Em 85% dos casos, segundo Fukuda, o problema é resolvido no período de seis a oito semanas. Geralmente, são necessários o uso de medicamentos antivirais e sessões de fisioterapia para a reabilitação facial.
O atendimento ao paciente tanto no HC como na Unifesp é feito por uma equipe multidisciplinar que envolve, além de otorrinolaringologistas, fisioterapeutas e fonoaudiólogos, entre outros.
Nos casos mais graves, cerca de 5% do total de atendimentos, é indicada uma cirurgia para descomprimir o nervo facial ou, quando o nervo se degenera, para fazer um enxerto com outro nervo do corpo.

Traumas
Segundo o otorrinolaringologista Rodrigo Bento, 48, chefe do serviço de paralisia facial do Hospital das Clínicas, 30% dos casos de paralisia atendidos no hospital são de origem traumática, causados por tiros, acidentes de trânsito ou quedas.
Ele diz que tem sido comum o aparecimento de pessoas com paralisia facial do lado esquerdo. São motoristas vítimas de tiros ou de espancamento durante tentativas de assalto.
Desde 1980, ano em que o serviço foi criado, 12 mil casos de paralisia facial foram atendidos no HC, considerado hoje um serviço de referência internacional.
A paralisia da face relacionada com o AVC é chamada de central. Segundo o neurologista Roberto Carneiro de Oliveira, 38, do Hospital São Luiz, a diferença da paralisia central em relação à periférica é que, no primeiro caso, a lesão acontece dentro do cérebro e não há alteração nos movimentos dos olhos e da testa. Em compensação, há perda de força no braço e na perna opostos ao lado do desvio da boca. Segundo Oliveira, a paralisia também pode estar relacionada à presença de tumores ou infecção no ouvido.
(CLÁUDIA COLLUCCI)


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