São Paulo, domingo, 23 de junho de 2002

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Costureira faz cirurgia para descomprimir nervo

DA REPORTAGEM LOCAL

Assim como o motorista Everton de Oliveira, a costureira Mirim da Conceição Melo, 50, não se esquece da data em que acordou com paralisia facial: 9 de março deste ano. Após lavar o rosto e sentar-se à mesa para tomar o café da manhã, foi alertada pela filha de que a sua boca estava torta.
Em princípio, pensou que se tratava de uma brincadeira da filha. Mas, quando levou à boca uma xícara de café, percebeu que tinha perdido o movimento de um dos lados do rosto.
Em seguida, Miriam também notou que não fechava os olhos e não enrugava a testa. Imediatamente foi ao pronto-socorro da Unifesp e, após passar por uma série de exames, recebeu o diagnóstico de paralisia de grau 6, o máximo que a doença atinge.
Como o tratamento com exercícios e medicamentos não surtiu efeito, no dia 16 de abril ela se submeteu a uma cirurgia para descomprimir o nervo facial. Hoje, o desvio da boca diminuiu e o olho já mostra algum movimento.
"Foram os piores momentos da minha vida. Tinha vergonha de sair de casa, de ser beijada pelo meu marido. Dava vontade de só ficar num canto escuro do quarto chorando. Minha auto-estima foi a zero", afirma.
Miriam ainda frequenta semanalmente o instituto da Unifesp para a fisioterapia. No local, ela recebe orientação de reeducação facial, que inclui a manipulação dos músculos da face, especialmente os do olho e da boca, e os cuidados que deve tomar em casa.
Segundo a fisioterapeuta Teresa Cristina Penteado, um dos cuidados fundamentais é a proteção dos olhos. Como a paralisia interrompe a produção de lágrimas, para evitar o ressecamento e uma consequente lesão da córnea, a pessoa deve usar lágrimas artificiais e pomadas.
Também devem ser usados óculos para proteger os olhos contra a luminosidade. O tratamento com eletroestimulação, como os chamados "choquinhos" ou eletroacupuntura, é proibido.
Teresa afirma que a eletroestimulação reforça a musculatura do lado paralisado, tornando-o excessivamente rígido.
Diferentemente de outros músculos do corpo, é praticamente impossível isolar a estimulação elétrica a um só músculo ou grupo muscular devido à proximidade e pequeno tamanho dos ramos no nervo facial.
Teresa também desaconselha colocar gelo, mascar chiclete ou fazer exercícios excessivos no local paralisado.
"É muito comum as pessoas darem dicas, sempre citando outros casos que, supostamente, deram certo com os mais diversos tratamentos. A vítima de paralisia tem de resistir a isso e só seguir o recomendado pelo médico."
A regeneração normal do nervo facial se dá em uma média de um milímetro por dia. Teresa diz que esse tipo de trabalho exige dedicação diária por parte do paciente em repetir os exercícios utilizando as técnicas aprendidas. "A recuperação pode ser lenta, ou praticamente imperceptível no início, mas é importante que o paciente seja persistente no seu programa", afirma.



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