São Paulo, domingo, 23 de junho de 2002

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GREVE NA USP

Intelectuais participam de ato em favor da faculdade de filosofia e pretendem acompanhar as negociações

Notáveis prometem intervir para solucionar impasse

André Sarmento-19.jun.2002/Folha Imagem
Mesa do ato em defesa da FFLCH, que contou com a presença de Antonio Candido (à dir.do orador)


CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os chamados professores notáveis da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) decidiram criar uma comissão para intervir cada vez que as negociações com a reitoria da USP para a contratação de novos docentes emperrarem.
Essa é a mais nova estratégia aprovada pelos docentes e alunos da unidade, com objetivo de colocar fim à greve de estudantes que já dura quase dois meses.
Os alunos pedem a contratação de 259 docentes a médio prazo. A direção da FFLCH reivindica 115 professores para os próximos três anos. A proposta da reitoria é contratar 26 professores.
A primeira "intervenção" do grupo de intelectuais, que reúne o crítico literário Antonio Candido, a filósofa Marilena Chaui, o geógrafo Aziz Ab'Saber e os sociólogos Octavio Ianni e Francisco de Oliveira, já rendeu bons frutos.
Na última quarta-feira, em um ato público em defesa da faculdade, eles levaram ao anfiteatro do Departamento de História uma platéia de 1.200 alunos.
Após o evento, reuniram-se com o vice-reitor Hélio Nogueira da Cruz e conseguiram a constituição de uma comissão tripartite (alunos, professores e reitoria) que negociará o fim da greve e uma política de contratação de docentes. É a primeira vez que os alunos participam da negociação.
Segundo Marilena Chaui, 60, o grupo de professores notáveis representa a "reserva moral" da FFLCH e que, para as próximas reuniões, ele deve ser ampliado.
Para Antonio Candido, 84, que ocupou o cargo de professor titular de teoria literária e literatura comparada da USP até 1978, quando se aposentou, a vocação crítica sempre foi a principal característica da unidade desde sua criação, em 1934.
"Diante da atual situação, essa vocação corre o risco de se desvirtuar. As reivindicações dos alunos são mais do que justas", afirmou.
Segundo ele, a fundação da FFLCH representa um marco na história político-social brasileira. "Foi uma frente que se abriu para estudar e criticar a sociedade. A faculdade gerava mal-estar, incomodava muito a elite."
Candido lembra que, na época em que estudou na USP, de 1937 a 1941, "havia mais professor do que aluno porque a carreira de humanidades tinha pouca repercussão entre a elite dominante".
Para o sociólogo Francisco de Oliveira, o movimento dos estudantes não é parecido com nenhum outro já ocorrido na universidade. "Não estão em jogo interesses corporativos. Nós não podemos fraudar essa expectativa [do fim da greve"", disse Oliveira.
"A greve não tem nada a ver com salário, é uma crise de ideário. Uma universidade sem ciências humanas não é universidade", afirmou o geógrafo e ambientalista Aziz Ab'Saber, professor emérito da FFLCH da USP.



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