São Paulo, domingo, 23 de julho de 2000


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MEIO AMBIENTE
Para professor da Unicamp, Petrobras está despreparada para conter vazamentos de óleo como o ocorrido na Repar
Ação pós-acidente foi falha, diz especialista

Associated Press - 19.jul.2000
Funcionário da refinaria Repar, em Araucária (PR), trabalha na operação para limpar os locais atingidos pelo vazamento de óleo


RICARDO BRANDT
DA FOLHA CAMPINAS

A Petrobras não está preparada para lidar com vazamentos como o ocorrido domingo passado na Repar (Refinaria Presidente Getúlio Vargas), em Araucária (PR).
É o que concluiu o professor do Departamento de Energia da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, Oswaldo Sevá Filho, estudioso da indústria petrolífera há dez anos e um dos autores do livro "Acidentes Industriais Ampliados", lançado este ano.
"Os rompimentos de dutos acontecem, são estatísticos. O problema é a falta de preparo da maior indústria petrolífera do país na contenção de materiais derramados", afirma Sevá Filho.
A Petrobras tem hoje 11 refinarias no país. Segundo ele, a demora na chegada do equipamento adequado para contenção da mancha de óleo no rio Iguaçu, no Paraná, é prova do despreparo da empresa e dos riscos coletivos que isso pode acarretar.
"Se um acidente nas mesmas proporções acontecesse na Replan (Refinaria do Planalto), em Paulínia, em meia hora a mancha de óleo chegaria a um primeiro reservatório de água, onde o município de Sumaré, com 200 mil habitantes, capta água", diz.

Inspeção dos dutos
Em Araucária (PR), a Petrobras colocou no rio Iguaçu o equipamento adequado para contenção do óleo somente na terça-feira, dois dias após o incidente.
Segundo Sevá Filho, vazamentos com dutos podem ocorrer, pois o material das tubulações são corroídos com o tempo e perdem espessura, diminuindo com isso a resistência à pressão.
O engenheiro critica a Petrobras por falta de transparência na política de inspeção de seus dutos.
Segundo ele, uma aparelho conhecido como "pig", que passa dentro dos tubos, registra dados sobre a geometria, deformação e espessura dos dutos.
"Não sabemos com qual frequência a Petrobras faz essa inspeção. Descobrimos casos em que, quando houve redução na espessura do duto, em vez de parar a produção por um dia todo para a troca dos tubos, a empresa diminuiu a pressão do bombeamento e deixou por isso", disse.

Riscos
Um dos maiores riscos verificados por Sevá Filho no caso do vazamento dos 4 milhões de litros de petróleo da refinaria de Araucária é a possibilidade iminente de combustão do material.
"O petróleo é como um chorume, uma composição de coisas mais leves e outras pesadas. O GLP, a gasolina, o querosene, o diesel, estão todos dentro do petróleo. Se pegarmos um barril do produto cru e jogarmos em cima de uma banheira com água, em três ou quatro dias, quase tudo já se evaporou. São todos materiais voláteis. O que não é solúvel vai para o fundo do rio como borra", afirma Sevá Filho.
No caso de Araucária, um dos grandes riscos, segundo o estudioso, é que enquanto a nata de óleo não for retirada totalmente do rio, o risco do incêndio é alto.
"Aquele produto está evaporando suas frações voláteis. Se pudéssemos ver a olho nu, observaríamos uma nuvem de hidrocarboneto volátil sobre o rio. Se alguém desinformado estiver muito próximo a um local com concentração desse produto sem dispersão e acender um cigarro, ou jogar uma bituca, ou mesmo provocar uma faisca elétrica, incendeia tudo", afirmou.


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