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INFÂNCIA ROUBADA
Pais, tios, irmãos e avós foram os autores de 34,4% dos homicídios de crianças registrados em 1997
Parente é principal autor de morte infantil
DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília
Parentes são os principais responsáveis pelo assassinato de
crianças entre zero e 11 anos no
país nos casos em que o autor do
crime é conhecido, segundo levantamento inédito do MNDH
(Movimento Nacional de Direitos
Humanos) obtido pela Folha.
É a primeira vez que se faz esse
tipo de estudo nacionalmente. O
MNDH analisou todos os homicídios contra crianças e adolescentes noticiados por jornais de 14 Estados do país de janeiro a dezembro do ano passado (três Estados
da região da Norte, seis da Nordeste, dois da Centro-Oeste, dois
da Sudeste e um da região Sul).
Pais, avós, tios e irmãos foram os
autores de 34,4% dos homicídios
infantis registrados em 1997. Amigos e vizinhos são responsáveis
por 4,6% das mortes violentas. O
autor do crime não é conhecido
em 55,3% dos casos.
Muitos dos crimes investigados
ocorreram na própria casa das
crianças (44,3% dos casos), comprovando que o ambiente doméstico é, em muitos casos, perigo e
não proteção para as crianças.
Os dados brasileiros são semelhantes aos dos Estados Unidos,
onde 20% dos assassinatos de
crianças são cometidos por membros da família, segundo estudo
do Departamento de Justiça.
Já entre os adolescentes, o levantamento constatou que os membros da família são responsáveis
por apenas 3,8% das mortes violentas. A proporção de assassinatos cujo autor é desconhecido é
bem maior entre jovens (de 12 a 17
anos) do que entre crianças: 80,2%
contra 55,3%.
Diagnosticar cedo
A maneira mais eficaz de diminuir o número de crianças e adolescentes que morrem por causa
da violência doméstica, segundo
especialistas, é detectar os abusos
o mais cedo possível.
Isso porque, antes da agressão
fatal, é comum ocorrerem atos de
abuso físico isolados, que servem
de alerta se forem detectados cedo.
O ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente) estabelece que médicos e professores são obrigados a
denunciar todos os casos -suspeitos ou confirmados- de
maus-tratos a crianças aos órgãos
competentes. Entretanto, a maioria das denúncias de abuso físico,
sexual e psicológico contra crianças continua sendo feita por vizinhos e por telefonemas anônimos.
No SOS Criança de São Paulo
-um dos maiores serviços de
atenção a crianças vítimas da violência- apenas 17,7% das denúncias foram feitas por profissionais.
A maioria das queixas foram apresentadas por vizinhos (34,4%) ou
telefonemas anônimos (30,7%).
Para corrigir o problema, uma
das principais providências que
será tomada pelos signatários do
Pacto Contra a Violência Intrafamiliar é oferecer cursos de treinamento e reciclagem a profissionais
de saúde e educação para facilitar
a identificação da violência contra
crianças e adolescentes.
A primeira iniciativa prática da
Campanha Nacional contra a Violência Intrafamiliar -coordenada
pela ONU (Organização das Nações Unidas) e pelo governo federal- começa a funcionar hoje.
Qualquer pessoa que queira dar
sugestões para prevenir a violência doméstica ou de formas alternativas para punir os agressores
pode ligar para a Secretaria Nacional de Direitos Humanos.
Das 8h às 12h e das 14h às 16h,
um funcionário da Justiça estará à
disposição para ouvir as sugestões
pelo telefone (061) 321-7491.
Quem preferir pode enviá-las pelo
fax (061) 224-6398.
"Queremos captar o máximo de
idéias possíveis. Já temos boas leis
para punir os agressores e proteger as vítimas, o problema é a dificuldade de implantar essas leis",
diz José Gregori, secretário nacional dos Direitos Humanos.
Hoje pela manhã, a ONU, o governo federal e 60 entidades nacionais ligadas aos direitos da mulher
e da infância assinam o termo de
adesão à campanha, na sede da
Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), em Brasília.
Em 25 de novembro, será finalmente assinado o Pacto Comunitário Contra a Violência Intrafamiliar, em que cada entidade signatária terá de descrever o que fará
para reduzir as agressões em casa
para o próximo ano.
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