São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 2000


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IMPRENSA
Segundo delegado, Pimenta Neves, que confessou a seu advogado ter matado a ex-namorada, só sairá do local preso
Jornalista é internado em hospital de SP

DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor de Redação do jornal "O Estado de S. Paulo", Antônio Marcos Pimenta Neves, 63, foi internado às 19h de ontem no hospital Albert Einstein (zona sudoeste da capital) devido a intoxicação causada por ingestão excessiva de tranquilizantes.
Pimenta Neves havia confessado, segundo seu advogado, Antonio Claudio Maris de Oliveira, ter matado com dois tiros sua ex-namorada e também jornalista Sandra Florentino Gomide, 32, no último domingo, em Ibiúna (SP).
A polícia deslocou cinco homens para o hospital, já que a prisão temporária do diretor de Redação foi decretada pela Justiça. O jornalista estava desaparecido desde o assassinato.
De acordo com o chefe da divisão de homicídios do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), delegado Nathan Rosemblatt, que esteve ontem à noite no hospital, Pimenta Neves só sairá do local preso.
O boletim médico divulgado às 21h45 informou que o jornalista estava internado na unidade de terapia intensiva (UTI). Seu estado de saúde era "estável", segundo o documento assinado pelos médicos José Henrique Germann Ferreira e Ricardo Botticini Peres.
A Folha apurou que Pimenta Neves tomou dose excessiva de um tranquilizante provavelmente da família dos benzodiazepínicos, semelhante aos conhecidos Valium e Lexotan.
Os exames de detecção da substância ativa do medicamento só devem ser concluídos hoje.
Ao se intoxicar com esse tipo de remédio, a pessoa entra em estado de torpor, de sonolência. Não responde a solicitações verbais e perde contato com o meio ambiente (situação semelhante ao coma induzido).
A internação em UTI é o procedimento médico aconselhável para evitar descontrole metabólico das funções renal e respiratória e da frequência cardíaca.
Até o início da noite, o delegado Rosemblatt esperava que Pimenta Neves se entregasse hoje às autoridades policiais, conforme combinado com Mariz de Oliveira.
De acordo com o delegado, o jornalista será indiciado por homicídio doloso (com intenção de matar), mas não informou se será simples (com pena de seis a 20 anos de prisão) ou qualificado (de 12 a 30 anos). "Não temos dúvida. O caso está solucionado", disse.
O advogado Mariz de Oliveira disse à Folha, ontem pela manhã, que Pimenta Neves confessou o crime e que deveria apresentar hoje a arma usada para matar a ex-namorada: um revólver calibre 38, registrado em seu nome. "Não sei os detalhes do crime, mas meu cliente está arrependido e muito abatido."
Segundo o advogado naquele momento, a apresentação e a confissão do jornalista tornariam sem efeito o pedido de prisão temporária. Ele disse que seu cliente não está atrapalhando a investigação, o que seria um dos motivos que justificaria sua detenção.
Mariz de Oliveira afirmou também que Pimenta Neves e Sandra mantinham "um relacionamento muito conturbado".
"Eu não posso precisar. Por telefone, meu cliente disse que a relação era conturbada, mas com um afeto muito grande", disse.
Na oportunidade, o advogado afirmou que teria o primeiro encontro com Pimenta Neves ontem à tarde. O jornalista, segundo seu defensor, estaria na cidade.
As fitas encontradas pela polícia no sítio do diretor de Redação e na secretária eletrônica do apartamento de Sandra, além do computador com e-mails enviados pelo jornalista à ex-namorada, serão enviadas hoje ao Instituto de Criminalística.
Helen Psaros, amiga da família de Sandra, disse ter sido informada pela polícia de que as fitas da secretária eletrônica da jornalista não continham ameaças de morte. Já os e-mails registraram ameaças veladas. Segundo Helen, em uma das mensagens, o diretor de Redação teria dito para a ex-namorada: "Tome cuidado, porque eu não tenho limites".



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