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DIREITOS HUMANOS
Dossiê de ONGs critica atitude do tribunal em relação à Febem
ONU deve questionar decisões do TJ
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O relator especial do comitê
contra a tortura da ONU (Organização das Nações Unidas), Nigel
Rodley, deverá questionar o presidente do Tribunal de Justiça de
São Paulo, desembargador Márcio Bonilha, sobre a atitude do tribunal em relação à Febem.
Nos últimos 12 meses, o tribunal
derrubou dez liminares concedidas em primeira instância. As medidas determinavam basicamente
que a Febem reformasse unidades, evitasse a superlotação e implantasse projetos pedagógicos
previstos no ECA (Estatuto da
Criança e do Adolescente).
Rodley foi durante muitos anos
chefe da Divisão Jurídica da Anistia Internacional. No último relatório, divulgado em julho, em
Londres, a entidade criticou a atitude do tribunal paulista.
A Folha apurou que, desde sua
chegada ao Brasil, Rodley encontrou-se extra-oficialmente com
técnicos e consultores ligados à
Anistia e a outras entidades de defesa de direitos humanos.
Em reportagem publicada no
domingo, Bonilha disse à Folha
que a interpretação política da
derrubada das liminares é "coisa
de promotores inconformados
que estão querendo levantar bandeiras não sei a que propósito e
que mandam fotografias para órgãos externos, que não deveriam
se intrometer", numa referência
indireta à Anistia.
Segundo Bonilha, as decisões do
tribunal visam a "manutenção da
ordem e do interesse público".
As declarações de Bonilha foram traduzidas para o inglês e vão
compor o relatório sobre tortura
que quatro entidades de direitos
humanos entregam hoje, em São
Paulo, a Rodley.
O relatório terá 20 casos considerados "exemplares" de tortura,
ocorridos em cadeias públicas e
presídios do Estado.
Além disso, há 17 casos de
maus-tratos e violência ocorridos
em unidades da Febem.
Rodley também receberá o vídeo do caso da Favela Naval,
ocorrido em 97. As imagens registram policiais militares espancando e constrangendo moradores.
O relatório terá pelo menos 20
fotografias. A Folha teve acesso a
14 fotos em que aparecem detentos com marcas de tortura, que
incluem choque elétrico no pênis.
Rodley já pode fazer, pelo menos, uma constatação: nenhuma
pessoa foi condenada no país por
tortura desde 97, ano em que foi
aprovada a lei sobre o assunto.
A informação consta de relatório entregue a ele e produzido pela
Comissão dos Direitos Humanos
da Câmara dos Deputados.
No final do dia, Rodley se reuniu com o presidente Fernando
Henrique Cardoso. "Em vez de
ele fazer solicitações, foi o presidente quem pediu a ele que ajudasse o Brasil na transferência da
experiência de outros países na
questão do combate à tortura
-prática que o governo brasileiro é totalmente contrário", afirmou o porta-voz da Presidência
da República, Georges Lamazière.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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