São Paulo, segunda-feira, 23 de agosto de 2004

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CANDELÁRIA PAULISTA

Uma mulher foi morta e outras 3 pessoas agredidas, totalizando 6 mortos e 9 feridos; policiamento será reforçado

Moradores de rua sofrem novo ataque

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Padre Julio Lancellotti (esq.), ao lado de Marta Suplicy e de dom Claudio Fummes, participa de ato na Sé


ALENCAR IZIDORO
AMARÍLIS LAGE
SÍLVIA CORRÊA

DA REPORTAGEM LOCAL

Moradores de rua foram alvo de novos ataques no centro de São Paulo, três dias após as agressões simultâneas que deixaram cinco mortos e seis feridos -e que provocaram a reação de grupos de direitos humanos e de organizações religiosas e a troca de acusações entre os governos Geraldo Alckmin (PSDB) e Marta Suplicy (PT).
Três dos novos quatro crimes se deram nas proximidades de postos da polícia e de um albergue. A ação foi classificada repetidas vezes de "inusitada" pelo secretário estadual da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho.
Os ataques da madrugada de ontem tiveram como alvos dois homens e duas mulheres e aconteceram da mesma forma que na última quinta-feira: enquanto eles dormiam, com golpes na cabeça de "instrumentos contundentes" como paus, tacos ou marretas. "Foram pancadas certeiras e fortes", afirmou Abreu Filho.
Uma moradora de rua conhecida como Maria e que dormia na rua Barão de Iguape -próxima do 1º DP (Sé)- morreu. Uma outra mulher foi atacada na praça São Vito e dois homens, nas ruas Japurá -a menos de duas quadras de um albergue municipal- e Quintino Bocaiúva -a um quarteirão de uma base da Polícia Militar e da Guarda Civil. Os três feridos foram levados ao Hospital do Servidor Público Municipal e correm risco de morte.
Ontem também morreu mais um dos moradores de rua agredidos três dias antes, aumentando para seis a quantidade de mortos dos dois ataques -além de nove que também foram atingidos e que permanecem internados.
Trata-se da maior agressão em série contra a população de rua já registrada na capital paulista.
O secretário afirmou que a polícia trabalha como provável "crime serial" 14 desses casos -com seis mortos e oito feridos. O 15º, na rua Rui Barbosa, assim como outros crimes contra esses grupos nos últimos dias (inclusive um homem atingido por bomba caseira anteontem na zona leste), não estão sendo elencados inicialmente na mesma investigação sob a alegação de que as características -tanto da agressão como da localização- são diferentes.
Abreu Filho convocou ontem a imprensa, acompanhado de líderes de entidades que trabalham com moradores de rua e de um representante da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), para anunciar um reforço no policiamento no centro de São Paulo.
Ele afirma que esses grupos vão auxiliar no "relacionamento" com a população que dorme nas calçadas para identificar a motivação do crime. Também foram infiltrados policiais do serviço reservado, que atuam sem farda.
A polícia trabalha oficialmente com duas hipóteses principais para os ataques seriais: a ação de traficantes de drogas -que estariam cobrando dívidas- ou de um grupo de intolerância, como os que atacaram dois homossexuais na praça da República em 2000.
Também é investigada a possibilidade de briga entre os próprios moradores de rua e a atuação de comerciantes, que poderiam ter contratado seguranças para afastá-los das calçadas.
O fato de os instrumentos usados nas agressões serem todos semelhantes, sem incluir objetos cortantes como facas ou cacos de vidro, é algo que minimiza a chance de briga entre eles.
Abreu Filho também diz ser "mais remota" a hipótese de envolvimento dos donos de lojas em razão de os ataques parecerem visar a morte, e não um "corretivo".
Questionado sobre a suposta participação de policiais, ele declarou que ela "está totalmente descartada no momento". Ele admitiu a possibilidade de os criminosos de quinta e de ontem serem diferentes -"de alguém ter se aproveitado da publicidade" do caso ou "até psicopatas".


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