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CANDELÁRIA PAULISTA
Moradores de rua e autoridades tomaram a Sé, palco de ataques, em repúdio às agressões; polícia é criticada
5.000 se unem em ato contra a violência
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Olhe nos meus olhos. Sou um
ser humano." Erguendo cartazes
com frases de repúdio à discriminação e à violência, moradores de
rua dividiram ontem as escadarias da catedral da Sé, região onde
ocorreram as agressões aos moradores de rua, e os microfones com
autoridades, representantes de
organizações sociais e religiosas
durante ato contra os ataques.
Segundo a Guarda Civil, cerca
de 5.000 pessoas compareceram
ao evento organizado na sexta-feira, antes dos ataques de ontem.
A ausência de um representante
do governo do Estado deu tom
político ao ato, já que as acusações
recaíram sobre a ação da polícia.
"Se a Polícia Militar não garantir a segurança dessas pessoas, as
comunidades estarão em vigília
nesta cidade para que nenhum
morador de rua seja atacado",
disse o padre Julio Lancellotti, da
Pastoral do Povo de Rua. A primeira vigília ocorrerá hoje, a partir das 18h, no largo São Bento.
De tão inesperados, os novos
ataques fizeram com que o folheto preparado pela Secretaria Municipal de Assistência Social para
ser distribuído durante a manifestação, com o total de vítimas, chegasse à Sé, na tarde de ontem, já
desatualizado.
"É uma desumanidade, uma covardia e uma crueldade muito
grande. Estamos todos chocados
com o número de vítimas. Não está havendo vigilância da polícia",
afirmou dom Claudio Hummes,
cardeal-arcebispo de São Paulo.
Antes mesmo do ato, o governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin (PSDB), que não compareceu ao evento, já rebatia as
críticas à falta de policiamento. "A
questão policial está bem encaminhada. Agora, o que deve ser feito
é um esforço para tirar essas milhares de pessoas das ruas. É uma
tarefa que cabe ao município."
Lideranças petistas compareceram em peso à manifestação, entre elas a prefeita Marta Suplicy, o
senador Eduardo Suplicy e o presidente nacional do PT, José Genoino. O ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, disse que
foi ao ato a pedido do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
"Essa sucessão de atentados
violam e atingem não só aqueles
que morreram e foram feridos
mas também todo o Estado, que
foi agredido e vilipendiado por essas agressões", disse o ministro.
"A mão pesada do Estado vai
mostrar que não se pode atingir as
pessoas assim."
Em seu discurso, a prefeita declarou que "num espírito de
união, a prefeitura, o Estado e o
poder federal vão pôr um fim a
uma situação que nos vexa a todos". Marta decretou três dias de
luto oficial em São Paulo.
Farpas
"Esse episódio não pode ser politizado, não pode se transformar
numa bandeira política de quem
quer que seja. Estamos diante de
uma questão humanitária", afirmou Luiz Flávio Borges D'Urso,
presidente da OAB. Mas completou: "Inegavelmente, essa responsabilidade [de evitar ações violentas] é do Estado. As pessoas que
estão nas ruas dependem da mínima proteção que o Estado deve
dar a todos. E isso não está acontecendo".
Após uma hora de discursos e
orações, os manifestantes fizeram
uma caminhada por três dos locais onde moradores foram atacados na madrugada de ontem.
Carregando uma cruz de papelão,
com faixas pretas enroladas na cabeça ou no braço, o grupo rezou e
fez um minuto de silêncio a cada
parada. Numa delas, na esquina
das ruas Quintino Bocaiúva e
Benjamim Constant, ainda havia
uma poça de sangue no chão.
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