São Paulo, segunda-feira, 23 de agosto de 2004

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CANDELÁRIA PAULISTA

Moradores de rua e autoridades tomaram a Sé, palco de ataques, em repúdio às agressões; polícia é criticada

5.000 se unem em ato contra a violência

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Olhe nos meus olhos. Sou um ser humano." Erguendo cartazes com frases de repúdio à discriminação e à violência, moradores de rua dividiram ontem as escadarias da catedral da Sé, região onde ocorreram as agressões aos moradores de rua, e os microfones com autoridades, representantes de organizações sociais e religiosas durante ato contra os ataques.
Segundo a Guarda Civil, cerca de 5.000 pessoas compareceram ao evento organizado na sexta-feira, antes dos ataques de ontem. A ausência de um representante do governo do Estado deu tom político ao ato, já que as acusações recaíram sobre a ação da polícia.
"Se a Polícia Militar não garantir a segurança dessas pessoas, as comunidades estarão em vigília nesta cidade para que nenhum morador de rua seja atacado", disse o padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua. A primeira vigília ocorrerá hoje, a partir das 18h, no largo São Bento.
De tão inesperados, os novos ataques fizeram com que o folheto preparado pela Secretaria Municipal de Assistência Social para ser distribuído durante a manifestação, com o total de vítimas, chegasse à Sé, na tarde de ontem, já desatualizado.
"É uma desumanidade, uma covardia e uma crueldade muito grande. Estamos todos chocados com o número de vítimas. Não está havendo vigilância da polícia", afirmou dom Claudio Hummes, cardeal-arcebispo de São Paulo.
Antes mesmo do ato, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que não compareceu ao evento, já rebatia as críticas à falta de policiamento. "A questão policial está bem encaminhada. Agora, o que deve ser feito é um esforço para tirar essas milhares de pessoas das ruas. É uma tarefa que cabe ao município."
Lideranças petistas compareceram em peso à manifestação, entre elas a prefeita Marta Suplicy, o senador Eduardo Suplicy e o presidente nacional do PT, José Genoino. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse que foi ao ato a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Essa sucessão de atentados violam e atingem não só aqueles que morreram e foram feridos mas também todo o Estado, que foi agredido e vilipendiado por essas agressões", disse o ministro. "A mão pesada do Estado vai mostrar que não se pode atingir as pessoas assim."
Em seu discurso, a prefeita declarou que "num espírito de união, a prefeitura, o Estado e o poder federal vão pôr um fim a uma situação que nos vexa a todos". Marta decretou três dias de luto oficial em São Paulo.

Farpas
"Esse episódio não pode ser politizado, não pode se transformar numa bandeira política de quem quer que seja. Estamos diante de uma questão humanitária", afirmou Luiz Flávio Borges D'Urso, presidente da OAB. Mas completou: "Inegavelmente, essa responsabilidade [de evitar ações violentas] é do Estado. As pessoas que estão nas ruas dependem da mínima proteção que o Estado deve dar a todos. E isso não está acontecendo".
Após uma hora de discursos e orações, os manifestantes fizeram uma caminhada por três dos locais onde moradores foram atacados na madrugada de ontem. Carregando uma cruz de papelão, com faixas pretas enroladas na cabeça ou no braço, o grupo rezou e fez um minuto de silêncio a cada parada. Numa delas, na esquina das ruas Quintino Bocaiúva e Benjamim Constant, ainda havia uma poça de sangue no chão.


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