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"Quando acordei, ela estava morta"
DA REPORTAGEM LOCAL
Assassinada brutalmente na
madrugada de ontem, a sexta vítima dos ataques a moradores de
rua dizia se chamar Maria, tinha
cerca de 40 anos e, nos últimos
dias, não estava se sentindo muito
bem. "Antes de dormir [anteontem], ela disse que estava sentindo umas dores", disse Sheila Soares de Moraes, 54, que vive na rua.
"Dorme, Maria, fica quietinha
que vai passar", eu disse a ela.
Quando acordei, ela estava morta", conta Sheila, que viu a moradora de rua ensangüentada ao seu
lado. Apenas as duas dormiram
no local. Da colega, sabia pouco.
Há dois dias Maria havia resolvido dormir naquela rua, na Liberdade (centro), sem dizer de onde
vinha ou aonde pensava em ir.
As poucas coisas que possuía
estavam ontem espalhadas pela
calçada, sujas de sangue: uma sacola xadrez, um pente fino, um
xale lilás, algumas blusas e panfletos de candidatos a vereador e à
prefeitura da cidade.
Sheila afirma que não viu nem
ouviu nada. "Por incrível que pareça, eu realmente não sei o que
aconteceu." À tarde, ela continuava deitada perto do local, apesar
dos apelos de amigos para que
fosse dormir em um albergue ou
perto de um posto policial. "Eu já
vi tanta coisa nessa vida que não
tenho medo de nada. Antes de
dormir, eu me benzo. Mas ir para
perto de polícia é bobagem."
Os vigias da revendedora de automóveis ao lado do local onde a
moradora de rua foi morta também disseram não ter visto nada.
"A equipe da noite disse que, às
3h, fez uma ronda aqui embaixo e
estava tudo bem. Então eles fizeram uma ronda nos andares de cima e, quando voltaram, mais ou
menos uma hora depois, ela já estava morta", disse o vigia Antonio
Eliene Silva Santos, 29.
Assim como Maria, outras três
vítimas permanecem não identificadas no IML e devem ser enterradas nos próximos dias. As duas
únicas vítimas reconhecidas foram Cosme Rodrigues Machado,
56, e Ivanildo Amaro da Silva, 41,
o travesti Pantera. Eles foram enterrados anteontem.
Machado tinha problemas psiquiátricos e dormia numa van, a
pedido da proprietária, até sofrer
ameaças de desconhecidos e voltar para a rua, segundo disse a
uma amiga, Cristina Silva, 28.
Ontem, o programa "Pânico na
TV", da Rede TV!, homenageou
Pantera, que costumava participar das pegadinhas feitas pelo
programa no centro da cidade.
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