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Regras limitam adesão a albergues
DA REPORTAGEM LOCAL
"Além da assistência social e do
monitoramento, seria importante
que os moradores de rua tivessem
algum tipo de apoio psicológico.
Muitos não conseguem mais lidar
com regras depois de muito tempo nas ruas", explica o ex-morador de rua Sebastião Nicomedi de
Oliveira, 37. Para ele, esse é um
dos principais pontos que explicam por que muitas pessoas em
situação de rua se recusam a dormir em albergues.
Um outro motivo para tantas
pessoas ainda preferirem as calçadas e os viadutos aos albergues da
Prefeitura de São Paulo é bastante
prático e imediato, segundo Oliveira: "não há vagas para todos".
Oliveira afirma que muitos moradores de rua não encontram vagas e acabam dormindo em frente
aos albergues municipais. São
Paulo tem cerca de 10.400 pessoas
vivendo em situação de rua e
7.500 vagas em albergues.
A Secretaria de Assistência Social refuta a afirmação de Oliveira.
"Temos vagas, sim. Temos inclusive uma central de vagas que age
quando um albergue está lotado e
busca uma vaga na rede. Temos
tido sobra de vagas, mas temos
capacidade para uma ampliação
diária. Temos estoque de colchões, de roupas de cama, de alimentação e de camas de campanha", disse ontem a secretária Aldaíza Sposati.
Para muitos moradores de rua
ouvidos pela reportagem, ampliar
a rede de moradias provisórias e
criar hotéis populares com diárias
a R$ 1 seria uma maneira de melhorar as condições de atendimento a essa população.
O marceneiro Alan Aparecido
Braga, 40, é cadastrado no albergue Cirineu, próximo à Câmara
Municipal (centro). Ainda assim,
ele diz dormir todas as noites com
um grupo de até 20 pessoas, na
avenida Brigadeiro Luís Antônio,
perto de um quartel. Questionado
sobre sua escolha, ele diz que não
quer "cuspir no prato que comeu". "A pessoa tem que ir lá para ver qual é a realidade", disse.
"Nos albergues têm muitas regras rígidas para nós. Aí o pessoal
acaba preferindo a independência
e a liberdade da rua", afirma Cristiano Jorge do Nascimento, 28,
morador de rua há dois anos. "Só
se pode demorar três minutos no
banho, se chegar atrasado perde a
janta... É complicado." Segundo
Nascimento, o clima entre os moradores de rua está extremamente
tenso desde os primeiros ataques
da madrugada de quinta. "Estamos muito amedrontados. Os albergues estão até mais cheios."
A Assistência Social confirma
que a procura por vagas em albergues foi, nos últimos dias, maior
que a média de dias úteis das instituições. Anteontem, por exemplo, 480 moradores foram atendidos contra uma média de 300 em
dias normais. O número de atendidos fica atrás, no entanto, da
média de 640 acolhidos nos dias
mais frios do inverno.
Elias Carlos Barbosa Silva, 29, já
morou no albergue Cirineu durante três meses do ano passado.
Segundo ele, depois que passou
a participar do programa Operação Trabalho, da Secretaria do
Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade, recebeu um prazo
para sair do albergue.
A prefeitura garante estadia de
90 dias nos albergues municipais.
Após esse período, a situação é
reavaliada. O prazo pode ser estendido ou as pessoas são encaminhadas para a moradia provisória e depois para um programa
de locação social.
Silva conta que após ter saído do
albergue, morou alguns meses na
rua até ocupar, com um grupo de
sem-teto, um prédio no centro. "É
muito difícil conseguir vagas. Se
as pessoas tivessem como dormir
no albergue, muitos desses crimes
não teriam acontecido."
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