São Paulo, segunda-feira, 23 de agosto de 2004

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SEGURANÇA

Meninos de 10 e 13 anos foram arrancados de ônibus escolar e ficaram 17 dias em cativeiro; dois homens estão presos

Após 3 h de negociação, polícia liberta irmãos

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois irmãos de 10 e 13 anos foram libertados pela Polícia Civil na madrugada de ontem após 17 dias de seqüestro. O cerco ao cativeiro -uma casa alugada em Embu-Guaçu (Grande SP)- durou três horas. Durante as negociações, os meninos foram mantidos como escudo, com armas apontadas para suas cabeças.
"O início foi tenso. Eles diziam que se entrássemos na casa eles matariam as duas crianças e se matariam", narrou o delegado Marcos Flório Manarini, da DAS (Divisão Anti-Seqüestro).
O seqüestro começara às 6h55 da quarta-feira, 4 de agosto. Os meninos seguiam para o colégio no ônibus escolar que tradicionalmente usavam quando o veículo foi fechado por um Astra prata.
Dois homens armados desceram do Astra, renderam o motorista e pelo menos 15 crianças e arrastaram os irmãos para fora. A ação evidenciou que eles sabiam bem quem estavam procurando.
"Nas ligações telefônicas já ficou claro que os seqüestradores tinham muitos detalhes da vida da família", afirma Wagner Giudice, diretor da DAS. A polícia acredita que as dicas tenham sido dadas por pessoas próximas a parentes das vítimas.
Os meninos são filhos de um comerciante que fez seus negócios deslancharem no extremo sul de São Paulo. A Folha não divulga seu nome por não ter autorização.
Hoje, ele tem quatro depósitos de material de construção na região da Cidade Dutra e do Grajaú, onde segue vivendo. Para a polícia, foi o contraste entre o padrão de vida da família e as condições do entorno que colocaram as crianças no alvo da quadrilha. Ex-funcionários do pai dos meninos são os principais suspeitos.
Nos dez primeiros dias de seqüestro, os criminosos fizeram cinco contatos e pediram R$ 1 milhão. Depois, não mais ligaram. As chamadas, porém, foram rastreadas desde o princípio: partiam de estações telefônicas de Jundiaí (60 km de São Paulo).
A polícia passou a cruzar as informações de que dispunha -voz do negociador, retrato falado dos suspeitos, cidade de origem das chamadas e local de abordagem- com os dados referentes a sequëstros encerrados recentemente. Achou um caso muito semelhante. Chamada, a vítima -uma mulher de 70 anos- reconheceu nos rostos desenhados os seus próprios seqüestradores.
Há pouco mais de um mês, ela havia sido levada numa ação igualmente ousada: de dentro da loja do filho, no extremo sul da cidade, durante um assalto, num domingo à tarde. Foi solta após dez dias e R$ 15 mil de resgate.
O mosaico para localizar as crianças contou com informações das interceptações telefônicas e dados apurados durante o seqüestro da idosa. Todos os indícios levavam a Embu-Guaçu.

Inteligência
Por vários dias, a região foi observada de helicóptero. Às 22h de sábado a polícia chegou à casa de número 158 da rua Valdomiro Moreira. O imóvel foi cercado, mas ninguém atendia aos chamados. "Aí tentamos arrombar a porta dos fundos, mas eles atiraram. Foi aí que tivemos certeza de que estávamos no lugar certo", disse o delegado Manarini.
Os 20 policiais se afastaram, e as negociações começaram. Pouco a pouco, Manarini conseguiu se aproximar de um vitrô, por onde mostrou as mãos desarmadas aos seqüestradores. Viu que eram dois e que mantinham as crianças sob a mira de três armas.


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