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Ar seco deixa Ribeirão em emergência pelo 2º dia
Umidade do ar atingiu 11,2% às 15h; meteorologia não prevê chuva até dia 5
Queimadas agravam
a situação e sem-terra
pedem inaladores
e caminhões-pipa
para conter poeira
JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO
A cidade de Ribeirão Preto,
no interior paulista, enfrentou
ontem o segundo dia consecutivo em estado de emergência
em razão das taxas críticas da
umidade relativa do ar. O menor índice do dia, 11,2%, foi registrado às 15h, conforme a medição feita pelo Cptec (Centro
de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos). Em Foz do
Iguaçu (PR), o índice foi ainda
mais baixo, de 8%, mas a Defesa
Civil não confirmou o dado.
Abaixo de 12% é considerado
estado de emergência, segundo
o Cepagri (Centro de Ensino e
Pesquisa em Agricultura) da
Unicamp.
Anteontem, a umidade em
Ribeirão (314 km de São Paulo)
foi ainda mais baixa: 4,8%, às
16h, segundo a Defesa Civil.
Desde outubro de 2002, quando a umidade atingiu 7%, a cidade não registrava níveis tão
reduzidos.
A situação deve piorar: a meteorologia prevê aumento da
temperatura nos próximos dias
-ontem, a máxima foi de
28C- e nenhuma chuva até o
próximo dia 5.
A baixa umidade pode causar
falta de ar, sangramento pelo
nariz, ardência nos olhos e ressecamento da mucosa que protege as vias aéreas.
O tempo seco é agravado pelas queimadas de cana e urbanas. Ontem, uma queimada gigante atingiu parte da fazenda
da Barra, que está ocupada por
600 famílias de sem-terra.
O Corpo de Bombeiros usou
sete carros e precisou de cinco
horas para debelar o fogo.
Pela manhã, os sem-terra tinham pedido à prefeitura que
lhes enviasse inaladores para
uso das crianças e carros-pipa
para minimizar a poeira.
O ar seco está fazendo a população mudar sua rotina. O
enfermeiro Hueslei Martins de
Melo, 30, aproveitava uma
"brecha" entre um plantão e
outro para exercitar-se, mas
deixou o hábito.
"Antes vinha ao parque em
qualquer horário, quando o trabalho permitia, mas agora está
tão seco que só venho no fim da
tarde ou começo do dia."
A dona-de-casa Renata Oliveira de Almeida, 28, explicou
que já se acostumou a levar os
filhos, Jeremias, 3, e Estevão, 1,
que têm bronquite, ao posto de
saúde sempre que a umidade
baixa.
Alerta
O epidemiologista Luiz Alberto Amador Pereira, pesquisador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental
da USP, em São Paulo, diz que a
sensação de areia nos olhos e o
nariz irritado provocados pelo
tempo seco são um alerta do organismo.
Ressecada, a mucosa das vias
aéreas e dos olhos deixa o corpo
suscetível a ataques de vírus e
bactérias, que provocam infecções e doenças respiratórias e
oculares.
"Com umidade abaixo dos
15%, o organismo começa a se
prejudicar bastante, porque as
defesas estão enfraquecidas."
Em Ribeirão Preto, a incidência de viroses aumentou até
30% nas últimas três semanas
nas unidades de saúde.
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