São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2008

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Análise

Extradição ocorre sem que crimes sejam apurados

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro Tarso Genro, da Justiça, decidiu extraditar o colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía sem que a Polícia Federal tenha apurado todos os eventuais crimes que o megatraficante cometeu no Brasil.
Os indícios que foram jogados no lixo com a extradição são de crimes gravíssimos: tráfico internacional de cocaína e ordem de assassinato, conforme a Folha revelou em 10 de março.
Abadía foi condenado por lavagem de dinheiro, mas havia indícios de que tenha continuado a traficar no Brasil e ordenado ao menos uma morte quando vivia aqui -ele é acusado de mandar matar 300 pessoas na Colômbia e 15 nos EUA. Há também indícios de que tenha dado mais de US$ 1 milhão a delegados da Polícia Civil para não ser preso antes de que a PF o apanhasse.
A praxe é apurar todos os crimes para só então extraditar .
Os indícios estão em cerca de 200 imagens da Hello Kitty que a PF apreendeu num laptop de Abadía. Escondidas dentro dessas imagens, com o uso de uma técnica chamada esteganografia, havia mensagens de texto e de voz para "sumir" com pessoas na Colômbia e movimentar cocaína com destino aos EUA.
A Polícia Federal tinha tão pouco interesse em colocar obstáculos à extradição que nem abriu um inquérito para apurar os possíveis novos crimes praticados no Brasil.
O que move o ministro e a PF são razões pragmáticas. O Brasil é completamente dependente do DEA (Drugs Enforcement Administration, a agência de combate às drogas dos EUA) para combater o tráfico internacional.
A própria prisão de Abadía ilustra à perfeição essa dependência: a PF prendeu Abadía, mas até uma semana antes não tinha certeza se o colombiano que estava sendo monitorado era mesmo um dos cinco traficantes mais procurados do mundo. A confirmação só foi possível com a ajuda dos EUA. A PF enviou uma amostra de voz do colombiano para que os americanos dissessem que era o dono dela. Como o DEA tinha gravações de Abadía em seu banco de dados, foi possível provar que era mesmo o colombiano.
Entregar um traficante com crimes a serem apurados é coisa de republiqueta. O ministro que fala grosso com militares acusados de tortura afina e fala adocicado quando do outro lado da linha está o DEA.


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