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Análise
Extradição ocorre sem que crimes sejam apurados
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro Tarso Genro,
da Justiça, decidiu extraditar
o colombiano Juan Carlos
Ramírez Abadía sem que a
Polícia Federal tenha apurado todos os eventuais crimes
que o megatraficante cometeu no Brasil.
Os indícios que foram jogados no lixo com a extradição são de crimes gravíssimos: tráfico internacional de
cocaína e ordem de assassinato, conforme a Folha revelou em 10 de março.
Abadía foi condenado por
lavagem de dinheiro, mas
havia indícios de que tenha
continuado a traficar no Brasil e ordenado ao menos uma
morte quando vivia aqui
-ele é acusado de mandar
matar 300 pessoas na Colômbia e 15 nos EUA. Há
também indícios de que tenha dado mais de US$ 1 milhão a delegados da Polícia
Civil para não ser preso antes de que a PF o apanhasse.
A praxe é apurar todos
os crimes para só então
extraditar .
Os indícios estão em cerca
de 200 imagens da Hello
Kitty que a PF apreendeu
num laptop de Abadía. Escondidas dentro dessas imagens, com o uso de uma técnica chamada esteganografia, havia mensagens de texto e de voz para "sumir" com
pessoas na Colômbia e movimentar cocaína com destino
aos EUA.
A Polícia Federal tinha tão
pouco interesse em colocar
obstáculos à extradição que
nem abriu um inquérito para
apurar os possíveis novos
crimes praticados no Brasil.
O que move o ministro e a
PF são razões pragmáticas.
O Brasil é completamente
dependente do DEA (Drugs
Enforcement Administration, a agência de combate às
drogas dos EUA) para combater o tráfico internacional.
A própria prisão de Abadía
ilustra à perfeição essa dependência: a PF prendeu
Abadía, mas até uma semana
antes não tinha certeza se o
colombiano que estava sendo monitorado era mesmo
um dos cinco traficantes
mais procurados do mundo.
A confirmação só foi possível
com a ajuda dos EUA. A PF
enviou uma amostra de voz
do colombiano para que os
americanos dissessem que
era o dono dela. Como o
DEA tinha gravações de Abadía em seu banco de dados,
foi possível provar que era
mesmo o colombiano.
Entregar um traficante
com crimes a serem apurados é coisa de republiqueta.
O ministro que fala grosso
com militares acusados de
tortura afina e fala adocicado
quando do outro lado da linha está o DEA.
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