São Paulo, domingo, 23 de agosto de 1998

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SAÚDE
Enfermeiras obstetrizes só farão parto normal na unidade da rede pública, que deverá atender sete mulheres por dia
SP terá a primeira casa de parto do país

AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local

Uma casa modesta na periferia sudeste de São Paulo está sendo preparada para abrigar uma experiência inédita no país: será a primeira casa de parto dentro da rede pública de saúde, com inauguração no próximo mês.
Nos seus quatro quartos, sete mulheres devem dar à luz por dia. Uma cadeira especialmente desenhada facilitará o parto na vertical. As mães estarão acompanhadas de seus familiares e serão assistidas por enfermeiras obstetrizes. Não haverá médicos na casa. Se alguma complicação ocorrer, uma ambulância, que fica na porta da casa, transportará a gestante para o hospital mais próximo.
A casa de parto é uma volta ao parto domiciliar, com alguns cuidados importantes: ela deve oferecer o conforto e a descontração de uma casa e a segurança de uma maternidade.
A casa terá equipamentos mínimos para acompanhar os batimentos cardíacos da mãe e do bebê. Banheiras com água aquecida, massagens e acupuntura serão utilizadas para relaxamento e alívio da dor, como sugere a Organização Mundial da Saúde. A casa segue um modelo já amplamente empregado no Canadá e em alguns países da Europa.
"A casa permitirá que o parto volte a ser um ato fisiológico", afirma David Capistrano Filho, médico coordenador do projeto Qualis, Qualidade de Vida Integral. Qualis é o nome fantasia do programa Saúde da Família da cidade de São Paulo. Nas regiões norte e sudeste, o Qualis é uma parceria da Secretaria de Estado da Saúde e da Fundação Zerbini.
No zona leste, onde o programa começou, a secretaria tem parceria com Hospital Santa Marcelina. Nessa região, em Itaquera, uma segunda casa de parto deve funcionar ainda este ano. A intenção é que esse modelo de casa seja adotado em toda a rede pública.
A primeira casa de parto funcionará provisoriamente num imóvel alugado em Sapopemba. Em janeiro próximo, ocupará um prédio agora em obras e que abrigará todo o programa Saúde da Família dos distritos de Sapopemba e do Parque São Lucas. Na região, que reúne uma população superior a 400 mil pessoas, não há um único leito de maternidade.
A concepção da casa tem a participação do Genp, Grupo de Estudos sobre Nascimento e Parto do Instituto de Saúde.
Sua implantação segue os princípios do Rehuma, uma rede de profissionais que prega o "parto humanizado", onde o respeito à mãe e à criança são fundamentais.
Segundo Capistrano, a implantação das casas encontrou resistência por parte da classe médica que considera o programa um retrocesso. "Estamos seguindo a tendência do Primeiro Mundo", diz. Segundo seus dados, as complicações e a mortalidade materna nas cesáreas são três vezes superiores ao parto normal. E os custos de um nascimento numa casa de parto chega a ser cinco vezes menor que numa maternidade.



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