São Paulo, domingo, 23 de agosto de 1998

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ABUSO SEXUAL
Moradores do Oregon compram casa para impedir que condenado por abuso se mude para bairro
Americano paga para escolher vizinho

VAGUINALDO MARINHEIRO
em Fort Lauderdale

Como o Brasil ainda está assustado com o maníaco do parque, essa reportagem poderia ser um "Você Decide". Pergunta 1 - Você acha que molestadores sexuais merecem uma segunda chance após cumprir pena de prisão? Pergunta 2 - Você acha que moradores de uma rua têm o direito de escolher quem vai morar nela?
Americanos de uma cidade do Oregon (costa oeste dos EUA) responderam não para a primeira pergunta e sim para a segunda.
Eles compraram um casa na cidade de Dilley para impedir que Jonathan Hawes, solto terça-feira passada após passar cinco anos presos por abusar sexualmente de duas meninas de 10 anos, fosse morar nela.
Antes disso, ameaçaram matar o ex-preso ou incendiar a casa. Depois das ameaças, Wendy Brewton, mãe de Hawes e proprietária do imóvel, resolveu vendê-la por US$ 250 mil.
O caso mostra duas características dos americanos: que eles estão cada vez mais se organizando em associações de vizinhos para combater a criminalidade (o que é considerado positivo) e que o medo da violência está fazendo com que eles sejam preconceituosas e segregacionistas.
"Muitas comunidades preferem prisão perpétua para molestadores de crianças a que eles vivam na mesma comunidade", disse à Folha Lawrence Sherman, professor do Departamento de Criminologia da Universidade de Maryland, que estuda violência e comunidade nos Estados Unidos.
As comunidades têm um certo apoio da Justiça. Em 36 Estados americanos, a polícia é obrigada a notificar os moradores de um bairro quando presos que cumpriram penas por molestamento sexual estão sendo soltos e se mudando para o bairro.
As leis começaram a aparecer em 1994 quando uma menina de New Jersey de 7 anos foi estuprada e morta por um vizinho que havia sido solto após cumprir pena por abuso sexual.
"Essas leis têm provocado um aumento no número de violência contra os ex-presidiários e não dá para saber se causou alguma diminuição no número de abusos sexuais", diz Sherman.
Ele acredita que as leis antiviolência deveriam ser tratadas como os remédios no país. "Esse tipo de lei só deveria entrar em vigor depois que fosse comprovada sua eficácia e segurança."
Para Roger Lane, outro estudioso da violência nos EUA com PhD em Harvard, as pessoas encontram pontos positivos e negativos nessas leis.
"Advogados dos molestadores acham que eles estão sendo punidos duas vezes quando tem seus nomes e endereços divulgados. Mas as pessoas em geral acham que molestadores não se "curam' nas prisões", diz.
Mas não seria preconceito acreditar que uma pessoa que abusou sexualmente de uma criança vá fazer isso de novo?
Os moradores de Dilley acham que não. Christie Unger, um dos vizinhos que deu dinheiro para comprar a casa, afirmou que eles jamais se perdoariam se acontecesse alguma coisas com uma criança e eles não tivessem feito todo o possível para protegê-las.
"Há pessoas que acham que esses molestadores merecem uma segunda chance. Mas essas pessoas devem oferecer seus endereços para eles" disse Darlene Larson, outra moradora de Dilley.
Você decide.



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