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Os céticos e os calvos
VAGUINALDO MARINHEIRO
em Fort Lauderdale (EUA)
Quando a editora desta revista me ligou pedindo para eu fazer uma reportagem sobre
uma conferência de céticos que
aconteceria em Fort Lauderdale, pensei: cético que sou, não
acredito em conferências.
Mas ela me disse que essa seria diferente, que os organizadores ofereciam US$ 1 milhão
para quem conseguisse provar
ser paranormal. Decidi ir.
A primeira palestra é de James Randi, um ex-mágico canadense que agora dedica sua
vida a provar que o mundo está cheio de charlatões. Careca,
Randi, 70, é respeitado nos
EUA. Tem uma fundação com
o seu nome e já foi tema de reportagens da "Time".
Sua palestra é uma miscelânea. Ele começa falando de
umas bolinhas de plástico que
os fabricantes vendem por US$
79,95 e juram que permite lavar roupas sem sabão. Ele diz
que sua fundação fez o teste e
provou que o produto é inútil.
Fala de Linus Pauling e dos
efeitos benéficos da vitamina
C. Puro trambique, segundo
ele. Fala também dos hormônios para retardar a velhice e
nesse momento é interrompido por Marvin Minsky, professor do MIT (Massachusetts
Institute of Technology) que
está na platéia e será palestrante no dia seguinte.
Minsky, um senhor barrigudo e careca que fica andando
de um lado para outro enquanto fala, diz que esses hormônios são trambique.
Michael Shermer abre as sessões à tarde. Publisher da revista "Skepitc", diretor da Sociedade de Céticos, ele exibe entradas que avançam para o
centro da cabeça e um bronzeado californiano (os céticos
não acreditam que Sol dá câncer?). Fica claro que foco não é
o forte dessa conferência. Sua
palestra mistura Madonna,
Lady Di e origens do universo.
A conferência avança com
Jack Horkheimer, diretor-executivo do planetário de Miami.
Ele é careca, tem bigode e asma
(respira com dificuldade enquanto fala). Para não fugir à
regra, mistura Egito, cometa
de Halley e propaganda.
A conferência chega ao fim e
eu não vi os supostos paranormais que iriam tentar ganhar o
US$ 1 milhão. Conferência de
céticos só atrai céticos.
Depois de três dias de palestras, acho que aprendi duas
coisas. Uma é que os céticos
podem ser tão fervorosos e ostentar ares missionários como
qualquer crente radical.
A outra é que deve haver uma
relação entre calvície e ceticismo. Como vejo todos os dias os
meus cabelos indo embora, comecei a pensar que, se eu voltar a acreditar em Deus e Papai
Noel, talvez eles parem de cair.
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