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SAÚDE
Estado alega que não terá como ampliar verba para a rede universitária; entidades dizem que terão de cortar para se adequar à crise
Hospitais ameaçam reduzir atendimento
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Hospitais universitários do Estado de São Paulo ameaçaram fazer cortes no atendimento à população se não houver aumento
dos repasses feitos pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Os dirigentes das entidades subiram o tom dos seus discursos
depois de receberem, durante revalidação dos seus convênios nas
últimas duas semanas, notícia do
governo estadual de que não haverá dinheiro novo para o setor.
Eles respondem hoje por um faturamento de R$ 30 milhões, segundo o governo do Estado, e por
mais de 50% do atendimento.
"Não há recursos para a necessidade dos hospitais. Aquilo que assinamos é absolutamente insuficiente para o que precisamos. É
uma crise sem antecedentes", diz
Pasqual Barretti, superintendente
do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Unesp, em
Botucatu (230 km de SP).
O hospital tem um déficit de
cerca de R$ 300 mil mensais, em
torno de 10% do que fatura pelo
SUS (R$ 3,5 milhões mensais). É a
unidade de referência em procedimentos de alta complexidade
para 30 municípios da região.
Dirigentes dos dez hospitais
universitários esperavam que na
revalidação houvesse um reajuste
robusto no valor dos tetos -o governo federal repassa determinado valor por procedimento, mas
há um limite para o total pago.
O Estado assumiu em julho a
gestão plena do sistema de saúde
de São Paulo, o que implicou receber mais verbas para o setor. A
secretaria estadual fala em um aumento de R$ 5,5 milhões por mês
no teto global da área hospitalar,
que era de R$ 220 milhões mensais. O déficit na área persiste: é de
cerca de R$ 5 milhões.
O pagamento dos hospitais
paulistas, antes gerenciado pelo
Fundo Nacional de Saúde, passou
a ser feito por meio do Fundo Estadual de Saúde. Os recursos vêm
de Brasília para o fundo estadual e
o governo do Estado reparte o valor entre as unidades.
Milton Laprega, superintendente do hospital universitário de Ribeirão Preto (314 km de SP), diz
que, como não há ampliação do
teto, será necessário remanejar
verba. Ele prevê transferir dinheiro da área de cirurgias ambulatoriais e de exames para a de consultas de especialidades médicas
(cardiologia, por exemplo). Isso
porque o Ministério da Saúde aumentou o valor dessas consultas.
Como está mantido o valor máximo destinado ao hospital, será necessário fazer a adequação, explica Laprega. Resultado: menos pacientes poderão fazer exames, por
exemplo. O déficit mensal da unidade é de R$ 500 mil. "Ou ajusta o
teto ou estreitamos a porta de entrada", diz Laprega. O hospital já
diminuiu os estoques estratégicos
de três meses para um mês.
O superintendente do hospital
da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Ivan Toro, diz
que a unidade pretende destinar
até 15% dos cerca de 400 leitos para procedimentos "extra-teto",
aqueles pagos além dos limites
globais de cada unidade. Tentará
captar pacientes de cirurgia de
obesidade e transplantes no lugar
dos que fazem procedimentos comuns, como cirurgias torácicas.
Estuda ainda vetar o atendimento
de casos simples, que poderiam
ser resolvidos em um posto de
saúde, no pronto-socorro.
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