São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 2005

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GUERRA URBANA

Explosão do artefato, que não destruiu muro do CDP de São André, decepou mão de um dos cinco suspeitos

Grupo tenta resgatar presos usando bomba

GILMAR PENTEADO
SIMONE HARNIK
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma tentativa de resgate de presos, com uma bomba de alta capacidade de destruição, provavelmente com força de propulsão -como um foguete-, provocou ontem danos em prédios residenciais e carros em Santo André (Grande São Paulo).
Duas pessoas, suspeitas de envolvimento na ação de resgate, ficaram feridas. A muralha do presídio, alvo da bomba, ficou intacta. Nenhum preso escapou. Segundo a polícia, a quadrilha queria resgatar dois traficantes presos no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Santo André.
Apesar dos danos da explosão, nenhum morador do conjunto habitacional Prestes Maia, que fica a 150 metros do centro de detenção, sofreu ferimentos.
Esse foi o segundo incidente envolvendo armamento pesado com o objetivo de resgatar presos em uma semana.
Na sexta, a polícia apreendeu um míssil, um lança-míssil, uma submetralhadora e um fuzil em Águas de Santa Bárbara (295 km de São Paulo). Na ocasião, quatro pessoas foram presas. As armas seriam usadas no resgate de presos da região.
"É algo que chama a atenção [o uso de bombas para o resgate de presos]. É preciso ter cautela", afirmou o coronel Joviano Conceição Lima, comandante do Policiamento de Choque da Polícia Militar de São Paulo.

Destruição
A explosão, ocorrida às 7h30, danificou sete carros estacionados, quebrou vidros, arrancou janelas e provocou rachaduras e buracos nas paredes. Os estilhaços alcançaram o 5º andar do edifício vizinho ao local da explosão.
Nos dois prédios mais próximos, 40 apartamentos foram atingidos. A Defesa Civil, após verificação do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), descartou comprometimento da estrutura.
Estacionado a um metro do local onde explodiu o artefato, um Fusca foi o veículo com maior dano. O lado esquerdo da lataria ficou retorcido e um estilhaço da bomba ainda atravessou o carro e saiu deixando um buraco de dez centímetros de diâmetro. "Tinha acabado de chegar em casa depois de levar os meninos para a escola. Só sobrou o som", contou José Aldair Pereira de Matos.
Segundo moradores, houve gritaria antes da explosão. Os suspeitos falavam "vai, vai logo, caramba", contou um deles. A bomba teria sido levada em uma estrutura semelhante a um carrinho.
A polícia tentava ontem descobrir a constituição do artefato. "Foram recolhidos ferros retorcidos. Só com uma perícia detalhada vamos saber se o artefato é militar ou caseiro, se tinha força de propulsão", disse o coronel.
Uma análise inicial apontou que o artefato seria de fabricação caseira e funcionaria por propulsão- a bomba seria jogada e detonaria contra a muralha do presídio. A suspeita é que os bandidos usaram uma pólvora inadequada para o serviço. A bomba teria explodido antes do lançamento, ferindo os dois suspeitos.
Quatro pessoas tinham sido detidas até a noite, segundo a Secretaria da Segurança Pública. Dois outros suspeitos estavam foragidos. Renê Freitas Ribeiro Lima Jr, 28, que se feriu na explosão, teve o pulmão perfurado e a mão amputada. Ivan de Oliveira, 19, ferido por estilhaços, tentou fugir, mas foi preso pela PM.
Os suspeitos foram vistos fugindo do local com um Fiat Tipo prata. A dona do veículo confirmou à polícia que emprestou o carro para um dos suspeitos um dia antes.
Segundo a polícia, um dos alvos do resgate seria um traficante conhecido como Baianinho e um comparsa. A polícia acreditava que vários detentos também seriam liberados para causar confusão e disfarçar o alvo real da ação.
A irmã de Ivan, Maria Aparecida de Oliveira, 23, afirmou que ele não participou da ação de resgate. Segundo ela, o irmão passava pelo local, rumo à casa da mãe, quando foi atingido pelos estilhaços. Ivan fugiu porque teria ficado com medo da explosão, segundo ela. A reportagem não localizou familiares dos outros suspeitos.


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