|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GUERRA URBANA
Explosão do artefato, que não destruiu muro do CDP de São André, decepou mão de um dos cinco suspeitos
Grupo tenta resgatar presos usando bomba
GILMAR PENTEADO
SIMONE HARNIK
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma tentativa de resgate de presos, com uma bomba de alta capacidade de destruição, provavelmente com força de propulsão
-como um foguete-, provocou
ontem danos em prédios residenciais e carros em Santo André
(Grande São Paulo).
Duas pessoas, suspeitas de envolvimento na ação de resgate, ficaram feridas. A muralha do presídio, alvo da bomba, ficou intacta. Nenhum preso escapou. Segundo a polícia, a quadrilha queria resgatar dois traficantes presos
no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Santo André.
Apesar dos danos da explosão,
nenhum morador do conjunto
habitacional Prestes Maia, que fica a 150 metros do centro de detenção, sofreu ferimentos.
Esse foi o segundo incidente envolvendo armamento pesado
com o objetivo de resgatar presos
em uma semana.
Na sexta, a polícia apreendeu
um míssil, um lança-míssil, uma
submetralhadora e um fuzil em
Águas de Santa Bárbara (295 km
de São Paulo). Na ocasião, quatro
pessoas foram presas. As armas
seriam usadas no resgate de
presos da região.
"É algo que chama a atenção [o
uso de bombas para o resgate de
presos]. É preciso ter cautela",
afirmou o coronel Joviano Conceição Lima, comandante do Policiamento de Choque da Polícia
Militar de São Paulo.
Destruição
A explosão, ocorrida às 7h30,
danificou sete carros estacionados, quebrou vidros, arrancou janelas e provocou rachaduras e
buracos nas paredes. Os estilhaços alcançaram o 5º andar do edifício vizinho ao local da explosão.
Nos dois prédios mais próximos, 40 apartamentos foram atingidos. A Defesa Civil, após verificação do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), descartou
comprometimento da estrutura.
Estacionado a um metro do local onde explodiu o artefato, um
Fusca foi o veículo com maior dano. O lado esquerdo da lataria ficou retorcido e um estilhaço da
bomba ainda atravessou o carro e
saiu deixando um buraco de dez
centímetros de diâmetro. "Tinha
acabado de chegar em casa depois
de levar os meninos para a escola.
Só sobrou o som", contou José Aldair Pereira de Matos.
Segundo moradores, houve gritaria antes da explosão. Os suspeitos falavam "vai, vai logo, caramba", contou um deles. A bomba
teria sido levada em uma estrutura semelhante a um carrinho.
A polícia tentava ontem descobrir a constituição do artefato.
"Foram recolhidos ferros retorcidos. Só com uma perícia detalhada vamos saber se o artefato é militar ou caseiro, se tinha força de
propulsão", disse o coronel.
Uma análise inicial apontou que
o artefato seria de fabricação caseira e funcionaria por propulsão- a bomba seria jogada e detonaria contra a muralha do presídio. A suspeita é que os bandidos usaram uma pólvora inadequada para o serviço. A bomba teria explodido antes do lançamento, ferindo os dois suspeitos.
Quatro pessoas tinham sido detidas até a noite, segundo a Secretaria da Segurança Pública. Dois
outros suspeitos estavam foragidos. Renê Freitas Ribeiro Lima Jr,
28, que se feriu na explosão, teve o
pulmão perfurado e a mão amputada. Ivan de Oliveira, 19, ferido
por estilhaços, tentou fugir, mas
foi preso pela PM.
Os suspeitos foram vistos fugindo do local com um Fiat Tipo prata. A dona do veículo confirmou à
polícia que emprestou o carro para um dos suspeitos um dia antes.
Segundo a polícia, um dos alvos
do resgate seria um traficante conhecido como Baianinho e um
comparsa. A polícia acreditava
que vários detentos também seriam liberados para causar confusão e disfarçar o alvo real da ação.
A irmã de Ivan, Maria Aparecida de Oliveira, 23, afirmou que ele
não participou da ação de resgate.
Segundo ela, o irmão passava pelo
local, rumo à casa da mãe, quando foi atingido pelos estilhaços.
Ivan fugiu porque teria ficado
com medo da explosão, segundo
ela. A reportagem não localizou
familiares dos outros suspeitos.
Texto Anterior: Outro lado: Inspetor da Receita Federal nega que haja conflito de interesses Próximo Texto: "De repente, começou a chover vidro" Índice
|