|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para 60%, exame da próstata não é tão constrangedor
Estudo apontou que 90% dos pacientes entrevistados disseram que fariam de novo o teste que previne câncer
Pesquisa feita por médico da Unicamp mostra ainda que mais da metade dos homens teve medo ou vergonha de fazer o procedimento
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais da metade dos homens
que procuram o consultório do
urologista teve medo ou vergonha de fazer o primeiro exame
do toque retal, procedimento
que previne o câncer da próstata -o segundo que mais mata
os homens no país. Mas, depois
que o fazem, 60% consideram
que foi menos constrangedor
do que imaginavam e 90% disseram que fariam de novo.
Os dados, preliminares, são
de uma pesquisa em andamento na Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas). Foram
ouvidos até agora 200 homens
entre 40 e 82 anos, dos sistemas público e suplementar de
saúde, que nunca tinham feito
o procedimento. Eles responderam a questionários sobre as
sensações depois do exame.
Dos entrevistados, 30% admitiram ter sentido vergonha e
25%, medo. Mas, desses, 60%
afirmaram que o exame foi
"melhor" do que pensavam e
7% consideraram "pior". Ninguém respondeu muito pior.
Em 40% dos casos, o grande
incentivador para que o homem fizesse o exame preventivo foi um outro médico que já o
acompanha, seguido pelas mulheres e filhos. Apenas um terço dos entrevistados afirma
que procurou o urologista por
conta própria.
Vergonha
O metalúrgico Valdir, 58, fez
anteontem seu primeiro exame
de toque retal. "Adiei o quanto
pude porque tinha vergonha.
Os colegas fazem piadinha, ficam gozando quando descobrem. Mas foi menos pior do
que eu pensava", diz ele, que fez
o exame por indicação do cardiologista. Por "vergonha", ele
pediu para não ter o sobrenome
identificado.
Segundo um dos coordenadores da pesquisa, Ubirajara
Ferreira, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, o exame de toque retal
ainda é um mito para o homem.
"[o reto] É um santuário para
os homens. Eles elaboram todo
tipo de fantasia, acham que vão
perder a masculinidade."
Ferreira conta ainda que 10%
dos pacientes se consultam,
mas, na hora do exame, desistem de seguir o tratamento.
"Eles dizem que não estão preparados psicologicamente, que
voltam depois e desaparecem",
conta o especialista, que lançou
nesta semana o livro "Câncer
de Próstata Tire suas dúvidas:
99 respostas e um alerta".
Para o urologista Miguel
Srougi, da Faculdade de Medicina da USP, o preconceito em
relação ao procedimento está
ligado ao nível de instrução do
paciente. "Quanto maior o conhecimento, menor tende a ser
a rejeição." Ele diz que metade
dos seus pacientes procura o
urologista por insistência da
mulher. "Na idade em que tem
maior risco para o câncer da
próstata, os homens tendem a
estar em relacionamentos mais
consolidados em que a mulher
se preocupa com a saúde do
marido", afirma o urologista.
Imprecisão
Segundo Srougi, o exame de
toque retal é altamente impreciso quando feito sem a associação do chamado antígeno prostático específico (PSA). "Em
60% a 70% dos casos em que o
toque está normal, encontramos câncer da próstata."
O ideal, explica o médico, é a
combinação dos dois exames.
"O toque ainda é importante,
mas, sozinho, não tem todo o
poder de diagnóstico do câncer
que se atribui a ele. É preciso
associá-lo ao PSA."
O tumor da próstata é a segunda causa de mortes por câncer em homens, sendo superado apenas pelo de pulmão. Segundo o Instituto Nacional do
Câncer (Inca), o Brasil deverá
fechar 2006 com 47 mil novos
casos de câncer da próstata.
Texto Anterior: Jornada internacional: Na Cidade Sem Meu Carro tem adesão de 37 países Próximo Texto: Para atores, o risco de câncer justifica incômodo do teste Índice
|