|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Fleury diz que foi vítima no caso dos remédios
Laboratório afirma que não suspeitou que drogas eram roubadas porque distribuidor tinha todos os documentos em ordem
Dono de empresa que vendeu caixas de Mabthera roubadas foi preso no mês passado, mas grupo Fleury diz que não sabia disso
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
O grupo Fleury diz que foi
"vítima" da quadrilha recém-desmantelada que roubava remédios de farmácias e hospitais públicos e os revendia a
hospitais e clínicas particulares. Na sexta passada, a Polícia
Civil apreendeu dez caixas roubadas de Mabthera no Fleury
Hospital-Dia, em Higienópolis
(região central de São Paulo).
O Mabthera é indicado para
artrite reumatoide e câncer do
sistema linfático. O Fleury
comprou o produto da Oncofarma, distribuidora cujo dono,
Maurício Rei, foi preso no mês
passado, como parte da Operação Medula, da Polícia Civil.
Paulo Esteves, advogado de
Rei, diz que seu cliente já foi
solto e nega as acusações. O dono da distribuidora, porém,
continua sendo investigado.
O grupo Fleury afirma que a
Oncofarma tem todos os registros necessários na Agência
Nacional de Vigilância Sanitária e na Receita Federal. "A distribuidora é legal e não houve
nada irregular na compra. Por
isso não tínhamos como suspeitar [da origem criminosa do
produto]", diz Mauro Figueiredo, presidente do grupo.
A partir do número do lote
impresso nas caixas do Mabthera, a polícia e a Vigilância
Sanitária de São Paulo descobriram que a droga utilizada
pelo Fleury havia sido roubada
em março deste ano de uma
farmácia pública estadual na
Vila Mariana (zona sul).
O delegado Sérgio Norcia diz
crer que "não houve má-fé" do
Fleury. "Mas só vamos ter certeza no fim da investigação."
O grupo Fleury diz que pagou
R$ 5.100 por cada caixa de
Mabthera. O governo paulista
afirma que o adquire por cerca
de R$ 6.000. A Roche, o laboratório fabricante, diz que o preço
de mercado é de R$ 8.000.
Hospitais ouvidos pela Folha, porém, afirmaram que os
R$ 5.100 estão dentro do valor
médio de venda para um hospital-dia como o do Fleury.
Hospital-dia é um tipo de
unidade onde a internação não
passa de um dia, para realização de pequenas cirurgias e
aplicação de certas drogas.
O presidente do Fleury diz
que poderia ter deixado de usar
o Mabthera se tivesse sabido da
prisão do dono da distribuidora
no mês passado e se o número
do lote tivesse sido tornado público na época do roubo.
A Vigilância Sanitária paulista divulgou o número do lote
roubado em seu site no mês de
julho, quatro meses após o roubo. Diz que o atraso foi proposital, para não prejudicar a investigação da Operação Medula.
O Fleury Hospital-Dia aplica
o Mabthera desde o ano passado. Desde então, 14 pacientes
de artrite reumatoide receberam o medicamento da distribuidora Oncofarma. Segundo o
Fleury, os pacientes estão bem.
Texto Anterior: Deocleciano Torrieri Guimarães (1933-2009): O jornalista que escreveu obras-primas para a mulher Próximo Texto: Clínica diz que negócio foi "dentro da lei" Índice
|