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TRANSPORTE
Transferência protege patrimônio dos 12 sócios do grupo Ruas de eventual arresto para o pagamento de dívidas
Penha S. Miguel agora é de paraíso fiscal
FELIPE PATURY
DA REPORTAGEM LOCAL
O grupo Ruas, líder no transporte coletivo de São Paulo com
mais de 30% dos ônibus da capital, está transferindo suas empresas para paraísos fiscais. O carro
chefe do grupo, a Empresa Auto
Ônibus Penha São Miguel Ltda.,
pertence desde fevereiro a empresas uruguaias.
A operação protege o patrimônio dos 12 sócios da empresa de
um eventual arresto para pagamento de dívidas fiscais da Penha
São Miguel. Desde meados dos
anos 90, a empresa acumula débitos com o governo, principalmente contribuições trabalhistas.
Os próprios executivos e procuradores da Penha São Miguel estimam que suas dívidas chegam
hoje a R$ 350 milhões (pouco menos do que o dobro do orçamento
para o próximo ano da estatal encarregada de gerir o transporte
em São Paulo: R$ 177 milhões).
A maior parte delas, entre R$
180 milhões e R$ 200 milhões, referem-se a contribuições ao INSS
(Instituto Nacional de Seguridade
Social) nunca recolhidas.
Os R$ 150 milhões restantes são
compostos por depósitos nunca
feitos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) nas contas dos funcionários e pagamentos de dívidas trabalhistas.
A empresa não paga Imposto de
Renda porque alega que opera no
prejuízo desde 1993.
A empresa é um ícone do transporte paulistano. Até o final de
1998, era a maior do município, tinha mais de 700 carros, 8% da frota municipal, elegia o presidente
do sindicato dos donos de empresas de ônibus (Transurb) e ditava
as negociações salariais do setor.
Investigação federal
A transferência para empresas
uruguaias está sendo investigada
por um grupo de auditores do
INSS em São Paulo, que estão
preocupados com uma eventual
fraude para evitar o pagamento
das dívidas. "Estamos investigando as cisões de empresas", diz o
secretário executivo do Ministério da Previdência, José Cecchin.
O INSS está preocupado hoje
com cisões e a transferência de
empresas para o exterior, o que
contraria as regras do Refis, o programa de refinanciamento de dívidas federais. "Quem tiver feito
alteração depois de entrar no Refis será excluído do programa e
volta a ser inadimplente", afirma.
"Esse não é nosso caso", garante
Maurício Cunha, destacado pelo
grupo Ruas para conduzir os negócios da São Miguel. As explicações do empresário, porém, esbarram em evidências e depoimentos de seus próprios comandados ouvidos pela Folha.
Em fevereiro, os 12 sócios da Penha São Miguel transferiram todas as suas quotas para as empresas Vathia Corporation Sociedade
Anonima e Pombia International
Sociedad Anonima.
Ambas com sede na Calle Juncal, 1.327, conjunto 2.201, em
Montevidéu. Tudo sem o conhecimento da prefeitura, a quem
presta serviços.
No Brasil, o endereço é famoso.
Trata-se do escritório Posadas y
Posadas, dos mesmos advogados
envolvidos na montagem da Operação Uruguai, que teria abrigado
os restos de campanha do ex-presidente Fernando Collor (90-92).
Empresas internacionais de investigação informam que Posadas y Posadas é um dos escritórios
mais procurados por brasileiros
que abrem empresas no Uruguai.
"É um clássico", diz Eduardo
Sampaio, da Kroll Associates.
O chefe da Penha São Miguel insiste que as duas empresas uruguaias escondem "investidores
uruguaios e argentinos" que não
querem se identificar.
Segundo Maurício Cunha, esses
empresários compraram primeiro a Penha São Miguel. Depois,
deveriam comprar as outras 12
empresas do grupo.
Os documentos de transferência da propriedade da empresa
mostram que as empresas uruguaias têm um procurador no
Brasil. Trata-se de Wilson David
Martinho Ferreira, que dá uma
explicação diferente sobre os "investidores estrangeiros".
Questionado sobre quem eram
os donos das empresas, Martinho
Ferreira foi claro: "Já ouviu falar
no grupo Ruas? Pois é", revelou à
Folha.
Martinho Ferreira disse que já
foi funcionário do grupo Ruas.
"Era um faz-tudo." Também explicou precisamente seu trabalho
como procurador dos uruguaios:
"Sou um mero expectador."
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