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União inter-racial sofre preconceito
DA SUCURSAL DO RIO
Casados há seis anos, o publicitário negro Amauri Queiroz e a
assessora de relações internacionais branca Fátima Melo dizem
ter aprendido na prática uma lei
do casamento inter-racial: é preciso mostrar à sociedade que o casamento "é sério".
"O que mais se vê é jogador de
futebol ou pagodeiro negro com
uma modelo loura. Parece que
não tem uma aura de coisa muito
séria, e a vizinhança reage. Temos
que provar o tempo todo que não
é uma relação fortuita nem interesseira", afirma Fátima.
Velado ou explícito, vindo de
todo lado, o preconceito é enfrentado cotidianamente pela família.
Queiroz diz que muita gente
ainda encara o casamento inter-racial como mera busca do prazer
sexual. No movimento negro, por
sua vez, ele é criticado por ter casado com uma mulher branca.
"É o efeito daquela história da
mulata ou do negro sensual, uma
idéia preconceituosa transmitida
na colonização. Por outro lado, os
companheiros me perguntam por
que eu não casei com uma negra",
diz o publicitário, integrante do
Conselho Municipal de Defesa
dos Direitos dos Negros e pesquisador da questão racial.
Fátima conta que, no prédio em
que moram, na zona sul do Rio, é
comum que o marido seja tratado
de forma diferente.
"Tem gente que acha que ele é
porteiro. Às vezes, os empregados
do prédio se dirigem a mim como
responsável pela casa, porque têm
dificuldades para aceitá-lo", diz.
De seu primeiro casamento, Fátima tem uma filha branca, Janaína, 16. Do casamento com Queiroz, nasceu Bernardo, 4, negro,
que aprende dentro de casa a conviver com a diferença racial.
Bernardo pergunta à mãe por
que seus cabelos são encaracolados e os da irmã, louros. "Explico
a diferença e estou tentando deixar que os cabelos dele cresçam,
para que ele veja que os cachos
são lindos", diz Fátima.
Outras perguntas de Bernardo
são mais difíceis de responder:
"Mãe, por que na escola só eu tenho a cor dos empregados? Por
que nos livros não aparece ninguém da minha cor?"
Ele estuda em escola de classe
média na zona sul que discute a
questão racial, mas é essencialmente de crianças brancas.
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