São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRANSPORTE

25% das viagens feitas por esse público em ônibus de SP já são de graça, o que reforça discussão sobre subsídio

Estudante aproveita mais o bilhete único

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os estudantes têm aproveitado as vantagens das baldeações gratuitas permitidas pelo bilhete único em São Paulo com mais freqüência que a média dos passageiros dos ônibus municipais.
Além de já pagarem somente 50% da tarifa (R$ 0,85, em vez de R$ 1,70), eles têm realizado integrações de graça em proporção superior à dos demais usuários que não dispõem do desconto.
Entre as viagens feitas pelos estudantes nos coletivos paulistanos em agosto, 25,3% eram transferências gratuitas -ou seja, daqueles que pagaram somente a primeira passagem e usaram duas, três ou mais conduções.
Entre as viagens feitas por outros passageiros (incluindo tanto quem paga com dinheiro como com os créditos do cartão), essa proporção era menor -19,5%.
O bilhete único, implantado oficialmente na capital paulista em maio, permite deslocamentos livres no intervalo máximo de duas horas, pagando uma só tarifa.
As explicações para os estudantes terem uma proporção maior de utilização das vantagens do cartão são diversas e também podem ser um indicativo de que eles estão usando esse benefício cada vez mais para outras atividades, e não apenas para ir estudar.
Dois fatos reforçam essa tese: 1) em agosto, a arrecadação dos ônibus se manteve estável nos dias úteis em relação a abril de 2004, mas, aos finais de semana, ela subiu 4%; 2) diferentemente do que acontecia com os passes em papel, os estudantes podem utilizar os créditos do bilhete único inclusive aos sábados e domingos, dias em que não há aulas.
O secretário municipal dos Transportes, Gerson Bittencourt, também considera que esse índice de utilização do bilhete único pelos estudantes possa estar ligado tanto àqueles que realmente moram longe do endereço de estudo como ao fato de eles serem "mais espertos" para detectarem as possibilidades de integração.
"Eles sacam mais rapidamente as alternativas de viagem, de itinerários", afirma. Além disso, todos dispõem do cartão magnético, diferentemente dos demais usuários, dos quais quase 30% ainda pagavam em dinheiro em agosto.
O benefício das integrações gratuitas dado também aos estudantes, aliado ao desconto de 50% previsto pela legislação, pode ter impactos sociais favoráveis, ao atingir jovens e adolescentes pobres, mas também amplia a margem de desvios de finalidade dos subsídios ao transporte coletivo.
Na prática, parte dessa vantagem pode estar sendo usada por estudantes de classe média, que teriam condições de arcar com a passagem integral. O custo do desconto acaba sendo debitado na tarifa dos demais passageiros -muitos dos quais mais pobres que os beneficiados- ou nas subvenções municipais -custeadas por toda a sociedade.

Regiões
Estatísticas de uso do bilhete único nos ônibus em agosto também apontam uma diferença de utilização da baldeação gratuita conforme as regiões da cidade.
A área seis, operada pelo consórcio Unisul, tem a maior proporção de transferências gratuitas -22,02% das viagens abrangem duas ou mais conduções, contra 20,08% da média da capital paulista (incluídos os estudantes) e 17,87% da área quatro, na zona leste, operada por um plano especial de todas as viações.


Texto Anterior: Há 50 anos: Abstenção atinge 30% nas eleições
Próximo Texto: Aluno de escola particular lucra mais que camelô
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.