São Paulo, sexta, 23 de outubro de 1998

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SEGURANÇA
Após morte de investigador, sindicato defende que policiais civis não transportem presos sem veículo adequado
Falta de carro e de atenção facilitaram fuga

RICARDO ZORZETTO
MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local

Um conjunto de negligência e falta de equipamento adequado pode ter colaborado para o incidente que causou a morte do investigador Mauro Aparecido Gomes e deixou o policial William Ruy Teixeira ferido anteontem, ambos do 14º DP (Pinheiros).
Gomes foi morto e Teixeira baleado quando levavam em um carro policial sem compartimento adequado dois presos do 14ºDP para receber atendimento médico. Os dois presos não estavam totalmente imobilizados. Só foi usado um par de algemas.
"Pode ter sido negligência dos investigadores algemar os dois presos com apenas um par de algemas e as mãos para a frente", disse Edmundo de Lacerda Neto, delegado-titular do 14º DP.
Segundo o delegado, foram encontrados dois pares de algemas no porta-luvas do Santana em que os policiais conduziam os presos do Pronto-Socorro da Lapa para o distrito.
Lacerda Neto disse ainda que o distrito não possui viaturas especiais para realizar o transporte de presos. "Temos seis veículos em condições de andar. São quatro Gol, um Kadett e o Santana utilizado ontem (anteontem). Nenhum com compartimento para o transporte de presos. São utilizados os veículos que o Estado deu", disse.
Segundo Lacerda Neto, delegado-titular do distrito desde maio de 1997, o último carro que recebeu do Estado foi um Kadett 96.
No entanto, o delegado negou que faltem armas e algemas para os policiais trabalharem. "Recebemos armas e algemas do Estado que estão disponíveis na chefia dos investigadores", disse.
O presidente do Sindicato dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo, Lourival Carneiro, disse que vai incentivar os policiais civis a não realizar transferência de presos quando não houver transporte adequado (carros com compartimento traseiro específico para o fim).
A proposta será apresentada em uma reunião entre todos os encarregados de distritos policiais da capital que o sindicato programa para breve.
Em outra frente, o sindicato afirma estar movendo uma ação de inconstitucionalidade para derrubar a resolução da Secretaria da Segurança Pública que transferiu para a Polícia Civil o transporte de presos para hospitais e prontos-socorros.
"O policial civil tem que ficar tomando conta de preso. Isto era atribuição da PM, que parece ter mais influência junto a secretaria", disse.
Segundo Carneiro, a morte de Gomes e a tentativa de homicídio contra o parceiro dele foi fruto da falência dos meios policiais.



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