São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAIA JUSTA
Modelo é top, mas homens preferem miss

Polliana Albania, vencedora do concurso Supermodel of Brazil, da Ford PAULO SAMPAIO
da Reportagem Local

Miss e top model. Para tentar entender melhor as duas, a Folha esteve nos concursos das respectivas categorias -que se realizaram, por coincidência, na mesma data, última terça-feira, e horário, 23h.
Sem perder a pose, cada uma das vencedoras adotou um peso e uma medida para falar da outra: "Uma top model precisa ter 2 m de altura e pesar 50 kg", disse a miss São Paulo, Patrícia Pedrazani, 18, orgulhosa de suas formas mais "roliças". Ela mede 1,74 m, tem 60 kg, 62 cm de busto, 62 cm de cintura e 92 cm de quadril.
A top model diz que as misses já tiveram mais peso. "Há muito tempo, até eu queria ser miss", confessou a vencedora do concurso Supermodel of Brazil, da agência Ford, a capixaba Polliana Albania, 14, que não chega a medir 2 m, mas 1,80 m, nem pesar 50 kg -um pouco mais: 56 kg.
Uma modelo de agência internacional ganha dinheiro posando para fotos e desfilando para grifes. E a miss? O que faz uma miss?
"Ela ganha cachê para representar instituições de caridade pelo interior", explica a miss Patrícia Pedrazani. "Na verdade, quem se candidata a miss não pode pensar em dinheiro, mas no título."
Não é bem assim. Se quiser capitalizar mostrando o corpinho nu, por exemplo, Patrícia vai ter muito mais retorno do que Polliana. Quem garante são os especialistas.
"Por mais que a mídia internacional bombardeie o consumidor com imagens de modelos muito magras, como deusas dos anos 90, o público leitor de revista masculina, no Brasil, prefere a mulher de coxas grossas e bunda redonda", diz a editora de fotografia da "Playboy", Ariane Carneiro, 30.
Um corpo perfeito para os padrões da revista, segundo Ariane, está abaixo do 1,70 m -o mínimo exigido para o concurso de miss- e do 1,75 m, para o de modelo.
"A Paula Melissa, por exemplo, que tem 1,68 m, 56 kg, quadril 92 cm e coxa 55 cm, vendeu muita revista em janeiro, um mês fraco."
Os concursos da semana passada aconteceram em lugares bem distantes um do outro. O de miss foi no Anhembi, e o de modelo, no Jockey Clube de São Paulo.
O de miss tinha torcida na platéia -a da vencedora veio de São Carlos- e gritaria nos bastidores.
"Essa sem-terra só tem 16 anos, não pode participar", rodou a baiana o agenciador de candidatas Daniel Barreto, que, numa espécie de homenagem às misses, vestia um sobretudo esvoaçante de seda por cima da roupa e que, aos gritos, tentava impugnar a candidatura da sem-terra Tatiane da Silva (para se candidatar a miss é preciso ter, no mínimo, 18 anos).
O concurso de modelos foi mais "cool" (contido), como manda o figurino globalizante dos anos 90. "São dois sonhos diferentes", explica o diretor da Ford Models, Marco Aurélio de Rey, 36. "O sonho da modelo tem mais a ver com os dias de hoje."
Mulheres que já viveram o sonho de ser miss e hoje acompanham a realidade das top models tentam traçar um paralelo entre ontem e hoje, modelos e misses.
"Banalizaram o concurso de miss", diz a miss Universo 1962, Ieda Maria Vargas, 52. "Na minha época, ganhar o título era muito mais importante do que ser top model hoje. Era como ganhar a Copa do Mundo", lembra.
Ieda diz que a culpa é da mídia. "As mulheres imitavam a miss, mas o processo não era tão rápido quanto é hoje com a top model."
Patrícia Pedranzani, a miss, pretende estudar relações públicas e trabalhar como "modelo". Polliana, a modelo, sempre quis ser aeromoça -agora deve parar de estudar para se dedicar à carreira.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.